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Numa noite acreditaram


Foi numa noite

antiga noite

dedilhadas todas as cordas

de uma viola delta* em diálogo 

com uma harpa dolente que desiste

se encontraram dois estranhos 

com sorrisos de criança 

dançaram mágoas comuns

numa falsa clareza

até ao fim da noite

da antiga noite


então os estranhos conheceram

as suas diferentes cores

os seus diferentes símbolos 

e as palavras desiguais

invadiram-lhes as entranhas


foi numa noite

antiga noite

em que dois estranhos apesar

das diferentes cores

e dos diferentes símbolos 

adormeceram num lugar quente

com os corpos coincidentes

ao som de uma viola delta em diálogo 

com uma harpa dolente que desiste

transformando a raiva em desejo

e o desejo em angústia 

por acreditarem no amor. 


 

*homenagem ao poeta Fernando Grade




10 comentários:

  1. Ia eu
    violoncelo
    entrar na dança
    mas desisto
    estou mais preparado
    não para valsa ou fado
    mas para um hino
    (vou juntar-me ao violino)

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    1. Desde que haja boa música, o nosso espírito eleva-se.
      Hoje às 19 horas 1.ª de Mahler, Orquestra Gulbenkian em directo na página da Gulbenkian ou no YouTube.


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  2. Gostei muitíssimo do poema com que homenageia Fernando Grade, L.
    Há anos que o não vejo, mas penso que morou - ou mora... - perto de onde moro pois, em tempos, via-o muito frequentemente...

    Não estarei em casa às 19 horas de hoje, nem venho de violoncelo como o Rogério: o único instrumento que toco com algum virtuosismo é o soneto...

    Forte abraço!

    Forte abraço!

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    1. O Fernando Grade mora em Oeiras - Quinta das Palmeiras. Não o vejo há muito tempo, depois de termos convivido muito quando morei em Cascais e tínhamos a nossa Associação de Artistas Plásticos.
      A música é essencial.
      Um abraço.

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  3. Miradas desde mi lente deixou um novo comentário na mensagem "":

    Una buena música, despierta los mejores sentimientos.
    Feliz fin de semana. Un abrazo.

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  4. Teresa Palmira Hoffbauer9 de março de 2024 às 14:02

    Ontem, não tive tempo para comentar.
    Ao espreitar, apaixonei-me pela belíssima fotografia.

    Nunca ouvir falar do poeta Fernando Grade, mas o poema é uma bela homenagem. E a música genial de Gustav Mahler enriquece toda a POESIA.

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    1. Fernando Grade é o poeta que, talvez, mais tenha publicado em Portugal.

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