Foto de Daniel Filipe Rodrigues



Perdoa a minha incompetência 


Sento-me à mesa de um café 

e escrevo-te uma carta para me justificar

    

Por justiça obrigo-me a dizer-te

sou o exilado voluntário 

sou a sentinela sem turno fixo

sou o que emudece por conveniência 

sou o encarcerado por loucura

sou a voz persistente na noite tempestuosa 

sou a cerejeira carregada para teu prazer da colheita

sou o bandoneon de Piazzolla

pedes-me ainda que seja

a Muralha da China

o Arco do Triunfo

os canais de Veneza

venho então confessar-te não ter competência 

encerro por isso a minha carta pedindo perdão. 


e fico-me por um chá bem quente

e uma torrada com pouca manteiga.



 

13 comentários:

  1. Interessante... "sou o encarcerado por loucura", algo que há muitos anos atrás escrevi num pequeno "apontamento" sobre uma pessoa que conheci.
    https://www.youtube.com/watch?v=iP_rOTbYm9c

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    1. Qualquer ser humano é o que é e devemos aceitar e não exigir as suas fragilidades e grandezas, porque se não seríamos apenas máquinas em série tipo salsichas:) Foi o que eu senti!
      Beijos e um bom dia

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    2. Por muito que se entregue, há quem exija mais, nunca chega.
      Um abraço.

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  2. Bom dia
    O chá quente e a torrada talvez amenizem a situação !
    Gostei desta confissão.

    JR

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  3. E já é muito.
    Excelente poema.
    O meu abraço.
    ~~~~~

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  4. Somos quem somos...e há sempre quem nos peça para ser quem não somos... Ainda bem que podemos tomar chá e torradas a gosto...
    mas, às vezes, até nisso implicam...
    Beijos e abraços
    Marta

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    1. Achei muita graça ao final do seu comentário. Temos de superar os desencontros até onde for possível.
      Um abraço.

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  5. Vamos lá desafiar-se...pelo menos os canais de Veneza😊. Vá, não se acomede aí no chá com torradas...abraço

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    1. Achei graça. Há coisas que nunca seremos capazes de fazer e transformações que nunca estarão ao nosso alcance, por impossíveis ou porque não estamos com disponibilidade.
      Um abraço.

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  6. É verdade, a ambição que dantes era um defeito, agora é uma qualidade.
    Um café está sempre ao nosso alcance.

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