O rolar do mundo
Os homens diferentes estavam
sentados à volta de uma mesa
à sua frente tinham o mundo
que observavam à vez ___ longamente
enquanto os outros
falavam baixo uns
dormitavam outros
terminada a observação
o observador empurrava o mundo
com o dedo indicador
para o homem diferente à sua frente
cada homem diferente
girava o mundo à sua frente
com as duas mãos observando
cada continente
cada oceano
cada lugar
depois murmurava
e tomava notas fazendo rolar o mundo
com o dedo indicador
para o homem diferente à sua frente
e assim estão há milénios
durante esse longo tempo
os homens diferentes são
por vezes tomados pelo tédio e
sonolentos deixam rolar o mundo
desordenadamente uns para os outros
até algum deles tomar a iniciativa
de voltar a ordenar a actividade
do mundo e a sua observação
assim foi
durante mais uns tantos séculos
eles cumpriam os ciclos da evolução
até que
amanhã os homens tomados
pelo tédio
sonolentos e
sem futuro
deixarão rolar o mundo desordenadamente
deixando o mundo cair ao chão
e a vassoura do criador varrerá
os destroços para o lixo da história
como matéria sem interesse para reciclagem.
Nuvensamiga
ResponderEliminarTenho passado por muitos blogues onde leio os teus comentários - e nunca aqui vim. Uma omissão e uma pena, pois vale a pena esta visita que espero repetir pois estas «brancas nuvens negras» são verdadeiramente excelentes, ups, excelentíssimas. Este poema (e se calhar já deves saber que eu, prestes a fazer 83 anos - 20 de Setembro - sou muito mais prosa) é um hino. Tenho de transcrever:
«até que
amanhã os homens tomados
pelo tédio
sonolentos e
sem futuro
deixarão rolar o mundo desordenadamente
deixando o mundo cair ao chão
e a vassoura do criador varrerá
os destroços para o lixo da história
como matéria sem interesse para reciclagem.»
Poesia como esta - tenho de reconhecer, sem desmentidos nem objecções, fazem-me acreditar que de quando em vez um poema diz-me o que quero sentir. Parabéns.
Beijos & queijos
Henrique (o Antunes Ferreira)
Caro Henrique
EliminarDesculpe a correcção, não sou "uma" sou "um" (sem melindre).
Este seu comentário é, para mim, compensador pois alguém com a sua experiência dar-me nota positiva é um contentamento.
Aqui estou para, através da poesia, tentar algumas vezes, levantar questões que mereçam reflexão e também para fazer companhia aos meus leitores e para que eles me façam companhia a mim.
Muito Obrigado.
Um abraço.
Bom dia
ResponderEliminarUm trabalho para ler e partilhar por tudo o que é comunicação.
Um bem haja para quem tem esta possibilidade de expressão.
JR
Agradeço a simpatia e a benevolência com que julga os meus textos.
EliminarUm abraço.
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