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Na minha casa
não passa nenhum rio
as noites ligam-se infindáveis 
a lareira está sempre fria
saio de mim próprio e contemplo 
o outro sentado no meu sofá 
bebendo e comendo a minha angústia 
sem se mover
sobre a sua cabeça uma luz
talvez divina
fugaz e incompreensível 

escuto um punho que me chama
na porta da minha casa
incorporo-me de novo
e recebo aquele que me chama 

Pai ___ e diz ___ cheguei

abro os braços 
e digo
na minha casa
não passa nenhum rio
as noites ligam-se infindáveis 
a lareira está sempre fria
como eu gostaria 
que fosses tu o meu pai.




7 comentários:

  1. Por vezes, a solidão torna a noite mais pesada e dorida....
    Beijos e abraços
    Marta

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    1. A noite nunca foi boa conselheira e fizeste um poema que até me comoveu e muito com a inversão de posição.
      Beijos e um bom dia

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    2. A noite é silenciosa. Faltam vozes, invento palavras para disfarçar a falta.
      Um abraço para a Marta
      Um abraço para a Fatyly

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  2. Também eu me senti comovida pela inversão final, eu que tenho a casa cheia de rios que, mal desaguam, voltam a nascer...

    Forte abraço, L.

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  3. um poema assaz curioso
    como se a palavra cheguei representasse um abraço.
    um abraço que vem destruir uma solidão tumultuosa que vamos percebendo verso após verso até que chegamos ao fim e nos deparamos como que com um pedido de colo "como eu gostaria/que fosses tu o meu pai"
    direi apenas: soberbo
    Grande Abraço Luís

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    1. Caro Zaratusta fico contente com o seu comentário, valorizou muito a minha publicação de hoje.
      Envio-lhe um abraço.

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