Foto de Daniel Filipe Rodrigues



Na minha infância nada era adulto
o meu sono era a permanência numa gruta 
escura com animais selvagens 
que corriam sobre mim como fazia 
o nosso gato que corria pela casa fora

na minha infância fui sonâmbulo
caminhei pelo corredor floresta da nossa casa
desembocando na claridade habitada 
pela minha mãe qual feiticeira 
manipulando sobre a nossa roupa 
uma magia fumegante no extremo de uma liana 
em que tropecei e me acordou 
para o pesadelo da realidade 
uma tolice que me envergonhou e terminou 
com uma corrida de novo para a cama

na minha infância nada era adulto
uma ave pousava no parapeito da minha imaginação 
e ali ficava imóvel pensando a possibilidade 
de um poema
até hoje.


 


4 comentários:

  1. Uma ave pousava no parapeito da imaginação do poeta.
    as suas penas delicadas como o toque de um pensamento efémero.
    Uma criança gatinha nas cores da minha imaginação.
    Há sempre a possibilidade da imaginação em movimento.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A imaginação é uma forma de nos salvarmos da loucura.

      Eliminar
    2. A imaginação é, de facto, uma espécie de refúgio. Nela, podemos ser heróis, artistas ou até mesmo loucos, mas sempre com o poder de moldar as nossas próprias histórias.

      Eliminar