Foto de Daniel Filipe Rodrigues



Na minha infância nada era adulto
o meu sono era a permanência numa gruta 
escura com animais selvagens 
que corriam sobre mim como fazia 
o nosso gato que corria pela casa fora

na minha infância fui sonâmbulo
caminhei pelo corredor floresta da nossa casa
desembocando na claridade habitada 
pela minha mãe qual feiticeira 
manipulando sobre a nossa roupa 
uma magia fumegante no extremo de uma liana 
em que tropecei e me acordou 
para o pesadelo da realidade 
uma tolice que me envergonhou e terminou 
com uma corrida de novo para a cama

na minha infância nada era adulto
uma ave pousava no parapeito da minha imaginação 
e ali ficava imóvel pensando a possibilidade 
de um poema
até hoje.


 


20 comentários:

  1. Uma ave pousava no parapeito da imaginação do poeta.
    as suas penas delicadas como o toque de um pensamento efémero.
    Uma criança gatinha nas cores da minha imaginação.
    Há sempre a possibilidade da imaginação em movimento.

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    1. A imaginação é uma forma de nos salvarmos da loucura.

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    2. A imaginação é, de facto, uma espécie de refúgio. Nela, podemos ser heróis, artistas ou até mesmo loucos, mas sempre com o poder de moldar as nossas próprias histórias.

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  2. Na infância, éramos piratas de sabre na mão, a desbravar o Mundo com gritos de triunfo... éramos princesas prisioneiras... éramos todo um Mundo...
    Beijos e abraços
    Marta

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  3. Recuerdos de la infancia y dela juventud, que vuelven a la mente, como si lo viviéramos de nuevo.
    Un abrazo.

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    1. Nuestro recuerdo puede hacernos felices por un momento.
      Un abrazo.

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  4. Eu e o meu irmão a seguir a mim éramos sonâmbulos e revi-me neste teu poema. Também havia o mito de que na hora do surto não podiam chamar pelo nome:) Gostei muito e ainda sorri ao recordar alguns momentos de então !
    Beijos e um bom sábado

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    1. É muito bom para um autor haver algum leitor que se identifica com o texto, com a ideia.
      Muito Obrigado.
      Um abraço.

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  5. " R y k @ r d o " deixou um novo comentário na mensagem "":

    Na infância tudo nos é permitido. Em adultos não. Está aí a grande diferença.
    Belo poema. Linda foto.
    .
    “” Bom Fim de Semana ““

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  6. na infância tudo nos era permitido,
    até um amigo imaginário para conversar
    que podia ser quem a nossa imaginação ditava...
    o poema veio agora, mas veio ....

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  7. Boa tarde Luís,
    A infância, e falo por mim, um dos períodos mais felizes da vida.
    Tudo nos é permitido e faz-nos companhia durante toda a vida.
    Beijinhos e bom fim de semana.
    Emília

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    1. Tudo nos era permitido, aos poucos fomos perdendo essa liberdade. Somos adultos... e pronto.
      Um abraço.

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  8. Cidália Ferreira deixou um novo comentário na mensagem "":

    Um poema que me fez voltar uns bons anos para trás:) Adorei :)
    .
    INSÓNIAS...
    Beijos. Bom fim de semana.

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  9. Bom dia,Caro Amigo Pintor/Poeta e Fotógrafo
    Este poema tem um tom confessional, quase onírico, que nos leva para o território sensível e caótico da infância, onde a realidade e a fantasia coexistem. O autor faz um mergulho nostálgico que nos transporta para momentos em que tudo parece estar vivo e em movimento, carregado de simbolismos.
    Tensão entre inocência e amadurecimento
    A repetição de "na minha infância nada era adulto" serve como âncora emocional, um contraste entre a pureza do passado e as desilusões trazidas pela maturidade. Essa repetição reforça o tema do desajuste e da quebra entre mundos.
    Metáforas e simbolismo
    As imagens, como a gruta escura com animais selvagens ou o corredor floresta, criam uma sensação de vulnerabilidade e mistério. Esses espaços são quase labirínticos, sugerindo que a infância é um território desconhecido e, ao mesmo tempo, fascinante.
    O papel da mãe como arquétipo
    A mãe aparece como uma figura mágica, uma feiticeira, transformando o banal em extraordinário. Este toque evoca o encantamento que a infância dá às figuras parentais, misturando afecto com uma pitada de temor reverencial.
    Sonho e realidade entrelaçados
    A caminhada sonâmbula e o tropeço na liana simbolizam a colisão entre o mundo dos sonhos e a vigília, representando um momento de despertar literal e metafórico. A vergonha e o retorno apressado à cama ecoam a vulnerabilidade da infância diante de descobertas desconfortáveis.
    Final melancólico e reflexivo
    O poema fecha com uma imagem delicada e profundamente poética: a ave no parapeito da imaginação, imóvel, pensando a possibilidade de um poema. Essa ave simboliza a criatividade latente que atravessa o tempo, conectando a infância ao presente. É como se o poema fosse um resgate dessa ave que, até hoje, espera ser plenamente compreendida.
    O poema é uma celebração da infância como um espaço de liberdade criativa e, ao mesmo tempo, de fragilidade. Ele faz um jogo cativante com memórias que não são lineares, mas sensoriais, cheias de texturas, aromas e sonhos.
    Sugiro uma leitura oral — o ritmo e a sonoridade das palavras merecem ser apreciados dessa forma!
    Boa semana.
    :)

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    1. Estou encantado com a sua análise. Depois de tudo o que disse, o texto ganha brilho e eu próprio me impressiono com o que ficou escrito.
      Um reconhecido obrigado.
      Um abraço.

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