Morrerei num comboio
farei uma viagem longa
e deixar-me-ei morrer 
junto a desconhecidos
não quero ser reconhecido ___ velho

os meus encontrarão 
na gaveta da minha mesa de trabalho 
a minha face em novo num retrato
e mil e quinhentos poemas

estarei ausente
durante muitos anos
quando eu regressar
já os meus não existirão. 


 



16 comentários:

  1. O poema transmite um clima profundo e melancólico. Reflete sobre a passagem do tempo, a solidão e a inevitabilidade da morte. As imagens de um retrato antigo e os poemas que ele deixa indicam uma ligação duradoura, mas inatingível, com o seu passado.
    A ficção ao serviço da poesia?

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  2. Ai valha-me Deus a tua amargura é dolorosa e fazes que eu fico preocupada embora saiba que os poetas fingem.
    Para aliviar digo ó SIR fazes o que entenderes, mas peço-te que não seja na linha de Sintra:)))) (desculpa amigo)!
    Beijos e um bom domingo!

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  3. Não há como evitar a Morte...Ficam apenas memórias ou nada...
    Beijos e abraços
    Marta

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  4. Penso que morremos sós, mesmo acompanhados.
    Aquele momento é crucial.
    Voltar depois de algum tempo não será muito
    avisado, porque os lugares estarão vazios.
    Um abraço
    Olinda

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  5. Ei lá, este poema é muito intenso. Bom para refletir...
    .
    Sussurros...
    Beijos. Bom fim de semana.

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  6. Boa tarde, caro Amigo Poeta/Pintor

    Este poema constrói uma atmosfera de despedida discreta, quase anónima, ao projectar a morte como uma viagem de comboio, metáfora recorrente para a transição entre a vida e a morte. A escolha de um espaço público reforça o desejo de apagamento da identidade: morrer entre desconhecidos é não deixar rasto imediato, não perturbar os que ficam.
    A segunda estrofe contrasta com esse anonimato: os "meus" encontrarão vestígios do eu poético na gaveta de trabalho, através de um retracto jovem e dos "mil e quinhentos poemas". Aqui, há uma tensão entre o esquecimento e a permanência — se em vida deseja o anonimato, na morte, a sua memória ressurge nos versos guardados.
    A última estrofe aprofunda a sensação de desencontro com o tempo. O poeta projecta um retorno simbólico, mas tardio, pois quando ele "regressar" (seja pela leitura póstuma dos seus poemas ou pelo resgate da sua memória), aqueles que lhe eram próximos já não estarão. A solidão inicial transforma-se numa ausência definitiva, mas paradoxalmente, o poema em si é um testemunho da sua existência.
    A estrutura livre e a simplicidade dos versos dão um tom de confissão sincera e reflexiva. A imagem da gaveta como guardiã da memória reforça o carácter intimista do poema. A tristeza que permeia o texto não é desesperada, mas sim resignada, como um adeus calmo e sem alarde.
    Continuação de bom Domingo com saúde.
    Abraço
    :(

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    1. Maravilhosa interpretação, fico sensibilizado com o que li. Muito obrigado.
      Um abraço.

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  7. Es un viaje, que tarde o temprano emprenderemos todos.
    Que tengas una feliz semana.

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  8. Estou demasiado preocupado contigo
    para poder interpretar o poema que foi escrito

    Quando morremos,
    se só ou acompanhados
    nunca o saberemos

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    1. Não há motivo para preocupações, a criatividade tudo possibilita.

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