IA


Um homem está deitado na sua cama branca
o homem sente-se um ponto no meio do universo
a sua cama é uma planície encerrada
numa cadeia de montanhas de onde se sai
por uma porta que está agora encostada
lá fora dentro de casa há vozes 
de mulher 
e de criança 
como fumos roçando as paredes
a janela do seu quarto poderia ser
a janela de um comboio por onde veria passar
céu 
aves
campos
montes
árvores 
rios
por detrás das cortinas fica o mundo dos outros
o homem deitado na sua cama branca
e emparedado no seu mundo
pensa
o que fará com tudo o que ficou 
sobretudo com o Mustang que encontrou na garagem.




 

11 comentários:

  1. O poema tem uma qualidade surreal fascinante que leva a leitora a um mundo profundo e inquietador. As imagens que ele pinta são vivas e estimulam a imaginação. Cria uma linguagem surpreendente entre o interior do homem e o mundo exterior que estimula o pensamento. Realmente impressionante é também a imagem da IA.

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  2. Vê-se bem que a imagem é da IA, mesmo sem ler a legenda.
    Falta-lhe un je ne quoi que só o ser humano se permite imprimir.
    Diferentemente, o poema leva-nos para o mundo do absurdo
    que todos nós temos inculcado no nosso íntimo e a que o
    poeta dá voz.
    Bom sábado.
    Um abraço
    Olinda

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  3. Mais um turbilhão de emoções muito inquietantes e apenas digo que a maioria sente o mesmo, e a minha receita é irmos desfazendo das coisas aos poucos e enquanto tivermos força anímica!
    Gostei!
    Beijos e um bom sábado!

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  4. Inspirado no poema
    deito-me na minha cama branca
    e ia quase a atingir a réplica
    quando tropeço na realidade
    tenho garagem, falta-me o Mustang

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  5. As imagens ficam mesmo artificiais...fico a interrogar-me se um dia também não se viverá numa realidade simulada. É assustador...

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