Foto de Daniel Filipe Rodrigues



Tenho os pés molhados
hoje foi um dia em que choveu muito
tenho frio na cabeça 
tem-me caído muito cabelo
tenho dores nas mãos 
há uns tempos que tenho os dedos rígidos 
tenho maus pensamentos à noite
há muito tempo que durmo sozinho 

um homem feliz
tem os pés secos
tem um bonito penteado
tem as mãos ágeis 
e partilha o seu sono. 


 


14 comentários:

  1. A mulher feliz descobriu o segredo da vida: pés secos para dançar, um penteado que faz inveja e mãos ágeis para preparar o melhor café da manhã! E quem precisa de um despertador quando se pode partilhar o sono?

    A fotografia é linda de morrer.

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    1. Aí está a solução para um estado de felicidade mas não muito exuberante.

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  2. Aprende-se a viver...e a encontrar outras formas de felicidade...apesar da chuva e das dores nas mãos...
    Beijos e abraços
    Marta

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  3. Um poema com um tom melancólico e um contraste bem estruturado entre as duas estrofes. A primeira constrói uma imagem de decadência e solidão através de elementos físicos e sensações, enquanto a segunda apresenta uma visão simplificada da felicidade, como se esta fosse quase inatingível para o eu poético.
    Para reflexão….

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  4. ...o penteado é ainda assim dispensável, até os carecas podem ser homens felizes(desculpe, mas eu gosto de brincar um bocadinho)

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    1. Também acho, o cabelo a mais ou a menos é uma questão de moda, há quem opte por não ter nenhum.
      A brincadeira é necessária.
      Um abraço.

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  5. Mais um poema na primeira pessoa do singular...
    Um homem feliz também tem as suas preocupações e dias de insónia... ninguém vive no paraíso...
    A foto de uma lareira rural é muito interessante.
    Ótimo fim de semana. Abraço
    ~~~~~

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    1. É verdade, a felicidade é momentânea e nunca total.
      Um abraço.

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  6. Boa tarde, caro Amigo Poeta/Pintor
    O poema apresenta uma construção binária bem marcada: a primeira estrofe descreve um estado de desconforto e sofrimento físico/emocional, enquanto a segunda contrapõe esse estado com uma visão simplificada do que seria a felicidade. O uso de frases directas e repetitivas cria um efeito de monotonia e cansaço, que reforça o tom melancólico do poema.
    A repetição do verbo "ter" no início dos versos (“tenho” / “tem”) sugere uma enumeração de perdas e carências, como se o eu lírico estivesse contabilizando os efeitos do tempo sobre si. Isso cria um efeito de resignação, sem grandes explosões emocionais, mas com um peso subjacente forte.
    A ausência de rima e a predominância de versos livres reforçam a sensação de espontaneidade e confissão, quase como se fosse um desabafo.
    O ritmo é pausado e marcado por uma oralidade crua, sem floreios. A quebra das frases, aliada à repetição estrutural, dá ao poema um tom quase mecânico, como se o eu poético estivesse preso a um ciclo de sofrimento e repetição. Isso funciona bem para transmitir a monotonia da dor, mas também pode dar um tom demasiado prosaico.
    O poema trabalha com imagens simples, mas eficazes. Os pés molhados, o cabelo caindo, as mãos rígidas e a solidão nocturna são metáforas para o desgaste do corpo e da alma. É um retracto do envelhecimento e da solidão, com uma carga de fragilidade e abandono.
    A segunda estrofe, ao apresentar um “homem feliz”, funciona quase como uma ironia: a felicidade parece reduzida a condições físicas e sociais básicas. Essa simplicidade pode ser interpretada de duas formas:
    Uma crítica ao modo como tendemos a definir a felicidade apenas por ausência de sofrimento.
    Ou uma aceitação resignada de que a felicidade, é algo distante, quase impossível.
    O facto de a segunda estrofe ser construída com frases curtas e objectivas reforça essa ideia de que a felicidade não precisa de explicações — enquanto a tristeza, na primeira estrofe, se arrasta em frases mais longas, detalhando os sintomas do sofrimento.
    O impacto geral do poema vem justamente da sua simplicidade e do contraste entre as estrofes. Ele consegue transmitir melancolia sem exageros e tem um impacto emocional forte e funciona bem na sua simplicidade.
    Destaque para a foto de suporte que é de uma beleza sem defeitos.
    Bom fim-de-semana, com inspiração e saúde.
    Abraço
    :)

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    1. Como sempre uma análise que demonstra conhecimento literário. A felicidade é, de facto, um bem raro e as exigências para que se sinta a felicidade vão diminuindo com o avançar da idade. Tudo muito bem explicado no seu comentário.
      Muito Obrigado. Bom fim de semana.
      Um abraço.

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  7. Olá :)
    Nem sempre é fácil conseguir a felicidade
    O seu poema é belo e melancólico.
    E depois a chuva passa e o sol aquece e tudo fica mais fácil.
    Bonita a imagem.
    Abraço e brisas doces ***

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  8. La lluvia que por general es beneficiosa para la vida del hombre y de la naturaleza, ahora gracias al mal estado de ánimo lo convierte en un elemento negativo y provocador de toda clase de males.
    Feliz fin de semana.

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