Foto do autor do texto 



O vento empurra o homem
por uma rua não escolhida
o homem palmilha o ciclo do álcool 
ele é um ex-alcoólico
que todos os dias acaba e recomeça 
o ciclo do álcool e do tabaco 
sendo que um e outro o empurram
com o vento rua abaixo
caminhando de costas para a tristeza
julga ele no seu engano
ao nível da loucura
o homem 
com o seu fígado e os seus pulmões 
a morrerem todos os dias
já foi um bom rapaz que se envolveu
nas actividades do amor e faliu

o homem vai dormir e voltará amanhã 
por outra rua desconhecida
sem o amor perdido
que trazia guardado num bolso roto. 

 


10 comentários:

  1. Um hospital privado, diagnosticou-me uma pancreatite
    Um hospital público, provou-me um desmentido
    Mas no entretanto, minha dependência alcoólica
    foi-se à viola

    Entretanto fumo que me dano
    O pulmão queixa-se e vou arfando
    Mas tenho o cuidado
    de meu bolso não ter qualquer buraco
    nem apanhar do chão qualquer amor perdido

    ResponderEliminar
  2. O engano e desengano da vida...por vezes, o tempo e a vida escorrem... sem se possa fazer nada ou tudo e não se saiba como...
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar
  3. Condeno mais quem vende a rodos o álcool ,vinho e drogas que para mim são todos traficantes e muita pena dos que caem nesse teia "caminhando de costas para a tristeza"
    Um poema de uma realidade nua e crua que gostei!
    Beijos e um bom dia!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. São doenças da sociedade mas, como é negócio, não se faz nada que leve ao fim do consumo.
      Um abraço.

      Eliminar
  4. Vícios (doenças)
    Vidas suspensas.
    Enquanto der....

    ResponderEliminar
  5. Boa tarde, caro Amigo Poeta/Pintor
    Este trabalho poético, tem uma cadência quase hipnótica, reflectindo o ciclo vicioso do protagonista. O vento como metáfora do destino ou da perda de controlo encaixa-se bem no desamparo da personagem, que vagueia sem rumo, impulsionado tanto pela própria dependência quanto por forças externas.
    A repetição do ciclo do álcool e do tabaco reforça o automatismo da sua existência, enquanto o verso “caminhando de costas para a tristeza / julga ele no seu engano” sugere uma fuga ilusória, onde o afastamento físico não equivale a uma libertação emocional.
    O final ressoa com um fatalismo quase terno: ele não carrega mais o amor perdido, nem por escolha, mas porque até isso se foi, escoando-se por um bolso roto.
    E já que hoje é o Dia Mundial, Bom Fim-de-semana com Poesia.
    ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Os seus comentários sempre me impressionam, análises muito precisas que, até ao autor, revelam leituras interessantes.
      Muito Obrigado.
      Um abraço

      Eliminar