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Vivemos em países diferentes 
tu para oeste eu para leste
entre nós há um meridiano desconhecido
que torna diferentes 
as nossas expressões 
as nossas referências 
o nosso entendimento 
sobre a construção do mundo
a capital que inventámos 
para cada um de nós 
está a milhares de quilómetros 
da nossa fronteira comum
mais depressa eu iria a Atenas
do que à torre onde flutua a tua bandeira
só coincidem 
as nossas mãos 
as nossas bocas
os nossos corpos completos

vivemos em países diferentes
onde pode ser dia num
e ser noite no outro 
a morte eliminará as fronteiras __ sem combate
ou então dividiremos uma laranja entre os dois
as nossas mãos tocam-se. 


 

 

12 comentários:

  1. Noite ou dia... encontrará um caminho para se (re)encontrar....
    Beijos e abraços
    Marta

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  2. É mais segura a opção de dividirem uma laranja entre os dois. Sei, por experiência própria, que nem sempre a morte apaga todas as fronteiras.

    Forte abraço, L.

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    1. Bem vinda.
      Tem toda a razão, quanto mais pacífico e doce, melhor.
      Um abraço.

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  3. Parece-me melhor a ideia da laranja:)))
    ~CC~

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  4. Boa tarde, caro Amigo Poeta/Pintor
    Entre meridianos e mal-entendidos, o poema constrói uma geografia íntima onde o toque suplanta a distância. No fim, resta a laranja—metade para cada um—e a ideia de que há fronteiras que a morte dissolve, mas outras que o encontro das mãos pode superar antes disso."
    Bem conseguido.
    A foto ficou impecável.
    Abraço
    :)
    https://olharemtonsdemaresia.blogspot.com/

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    1. O diálogo pode resolver as coisas se ambos estiverem dispostos a encontrar uma via comum. O seu comentário é exacto na apreciação.
      Um abraço.

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  5. A pesar de la distancia y la diferencia de idiomas, eso no es motivo para que no llegáramos a entendernos.
    Un abrazo desde España.

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    1. Para que dos personas se entiendan, tiene que haber fuerza de voluntad.
      Un abrazo.

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  6. O poema tem uma bela construção da distância geográfica como metáfora para a distância emocional e cultural, mas acaba por sugerir que, no essencial, o toque,seja das mãos, dos corpos ou do gesto simbólico de dividir uma laranja,é o que verdadeiramente importa. Há uma certa melancolia discreta, mas também uma aceitação serena do que é ou do que pode ser.
    Interessante ...

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    1. Para não deitar tudo a perder há que fazer cedências mas... não pode ser apenas um a ceder. A sua interpretação é correcta.
      Um abraço.

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