Foto do autor do texto 



Uma manhã levantei-me da minha idade
tinha acabado de acordar da náusea 
da compreensão do lugar onde cheguei
e fiz o saldo do meu tempo consumido

vivi todas as estações 
não caminhei em todas as cidades e
em algumas que caminhei perdi-me sempre
não aprendi a nadar nem a voar
não li todos os livros
surpreendi-me de punho erguido
estive sempre em casa ao entardecer
arrisquei procurar a luz ao fundo do túnel 
naufraguei e dei à costa em várias ilhas

depois deixei-me morrer ___ atento
como se estivesse a aprender 
algo de único e irrepetível 
mas
não tive tempo de perceber
se somos alguma coisa.


 


 

6 comentários:

  1. A vida é feita de naufrágios e chegadas à costa...e quem somos realmente... acho que o objectivo é tentar descobrir, desbravar o tempo e o espaço....
    Procuramos constantemente e quando desistimos... as cores ficam desfocadas....
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A dúvida é se depois disso tudo... somos alguma coisa.
      Um abraço.

      Eliminar
  2. O poeta começa descrevendo um momento de despertar, de uma espécie de clareza após a náusea, que pode simbolizar uma crise ou uma realização dolorosa. A expressão "fiz o saldo do meu tempo consumido" sugere uma avaliação do que foi vivido até então. Ao longo do poema, há uma enumeração de experiências e limitações: viver todas as estações, perder-se em algumas cidades, não aprender a nadar ou a voar, não ler todos os livros. Essas imagens transmitem uma sensação de tentativa e de limites, de sonhos não realizados ou de caminhos que não foram trilhados completamente. A surpresa de punho erguido indica momentos de resistência ou de orgulho, mesmo diante das dificuldades. A repetição de "não" reforça uma sensação de ausência ou de algo que ficou por fazer, enquanto a referência a estar sempre em casa ao entardecer sugere uma rotina, uma zona de conforto ou de estagnação. A busca pela luz no fundo do túnel e o naufrágio em ilhas representam tentativas de encontrar esperança ou significado, mas também fracassos e perdas. O momento final, em que o poeta se deixa morrer, atento, como se estivesse aprendendo algo único e irrepetível, traz uma sensação de aceitação ou de entrega. No entanto, há uma dúvida existencial: se somos alguma coisa, se há um sentido ou uma essência. Essa dúvida final é poderosa, pois revela a busca constante por compreensão e o mistério da existência.

    A fotografia não ofusca o poema, embora seja linda de morrer.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ninguém diria melhor o que o poema contém. Fiquei agradado com o que li no seu comentário, fiquei convencido de que a minha mensagem passou. O seu texto é um momento feliz para o autor.
      Obrigado.

      Eliminar