Risco a giz sobre a mesa de madeira
um quadrado branco
desenho uma casa confinada
de tecto desigual

sempre quis contrariar a simetria

encho de outono a superfície 
sobre o silêncio da casa
avalio todo o espaço em volta
de traço em traço desconstruo a forma

sempre me tentou ir contra o desconhecido

concluo que não tenho mais nada a dizer 
e que não basta ter uma casa
não satisfeito com o resultado
alimento o fogo da lareira

isto também é o exílio. 


 


10 comentários:

  1. Ás vezes, estamos exilados...sem saber bem porquê....ou sabemos e não encontramos uma resposta viável....
    Beijos e abraços
    Marta

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  2. A forma como descreve o risco na mesa, a casa com tecto desigual e a desconstrução do espaço transmite uma sensação de procura por algo mais incrível, uma vontade de desafiar o convencional. A referência ao outono e ao silêncio cria uma atmosfera de reflexão e introspecção. É interessante como o poema mistura o desejo de contrariar a simetria com a sensação de exílio, mostrando uma relação entre a criatividade, a inquietação e a busca por sentido. Uma leitura que convida a pensar sobre o próprio espaço e o que nos faz sentir em casa. Interessante a imagem.

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    1. Muito concludente a sua análise. Como sempre, desperta o interesse do próprio autor do texto.
      Um abraço.

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  3. Nunca tive casa própria mas arrendada e é o meu abrigo mas jamais invadir o espaço dos outros. Se os políticos fosse sérios toda a gente que vive na rua teriam um teto e mais não digo porque o meu coração inclina-se perante as tuas palavras!
    Beijos e um bom dia

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    1. Todo o ser humano deveria ter um espaço onde ter o seu corpo. Não é justo que tenhamos de pagar a alguém para que nos deixe ter o nosso corpo num espaço que já é de alguém. Afinal quem é que deu o direito a alguns de se apropriarem de terra que não era de ninguém no princípio do mundo?
      Um abraço.

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  4. Tantas vezes o exílio é a capsula onde resistimos, outras vezes o lugar do qual queremos fugir.
    Um abraço

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    1. Vive-se no exílio e muitas vezes não damos conta disso.
      Um abraço.

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  5. Gosto do jeito do poeta fugir a alguns princípios estabelecidos ,
    sem que se apague a fogueira ... e a aquarela que amo.
    abraços

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    1. Procurar a simplicidade e a beleza é um objectivo.
      Um abraço.

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