Restaurante Solar dos Mouros - Lisboa
Um homem e uma mulherestão sentados a uma mesasão pais e avóscom a sua missão cumpridacomem com a boca fechadajá esgotaram as palavraso seu silêncio é o silêncio da discórdiadurante o tempo do passadonão tiveram tempo para concordaragora discordam em tudoe o corpo também já não é diálogoo seu silêncio é o silêncio da discórdiaum homem e uma mulherestão sentados a uma mesade um restaurante popularnem têm olhos um para o outrofora do prato que divideme num ímpeto disfarçamo que determina o seu silêncioeles são iguais aos seus paisque lhes mostraram como sãoos órfãos de palavrasque se encontram em todos os lugarese nos restaurantes em silêncioaos fins de semanaum homem e uma mulherestão sentados a uma mesacolam os dedos às migalhassossegadas sobre a toalhae afogam o silêncio num prato de sopachegaram ao ponto de secar o seu nomeque só pronunciamno azedume dos seus desencontrosmolham o pão na angústia
e dão estalos de prazer com a língua
o homem e a mulherque estão sentados a uma mesade um restaurante penúmbreotemem a morte do outroporque isso será a prazoa sua própria mortequando esse pensamentolhes cai da cabeça para os olhosdão a mão ao outroé o máximo de ternurade que são capazesjá que as suas línguasnunca mais se encontrarão.
O poema retrata de forma sensível e profunda a complexidade das relações humanas, especialmente entre um homem e uma mulher que, apesar de compartilharem uma vida e uma história, vivem um silêncio carregado de discórdia e distância emocional. O poeta fala sobre a passagem do tempo, a perda de palavras e de diálogo, e como o medo da perda um do outro pode, paradoxalmente, aproximá-los em momentos de ternura máxima. A cena da imagem reforça a visão dessa vida triste e vazia.
ResponderEliminarMuito certeiro o seu comentário. Homens e mulheres que no final das suas vidas apenas se suportam, diria que é muito comum.
EliminarO silêncio que esconde a distância e torna a vida vazia...Senti isso com os meus Pais... juntos, mas numa casa cheia de silêncios doridos....
ResponderEliminarBeijos e abraços
Marta
Aprendemos muitas coisas com os nossos pais até a ser órfãos de palavras.
EliminarUm abraço.
Há gestos que o tempo apaga e a inércia anula a dinâmica da vida.
ResponderEliminarAbraço de amizade.
Juvenal Nunes
A inércia é a antecâmara da decrepitude.
EliminarUm abraço também Caro Juvenal.
Infelizmente há muitos casais assim que não têm diálogo e ou pouco diálogo e atribuo à solidão de muita coisa como a ausência da família sobretudo dos filhos. Gostei
ResponderEliminarBeijos e um bom dia
O silêncio entre um casal é um campo de destroços.
EliminarBom dia.
Um abraço.
Um belo, duro e longo poema, L.
ResponderEliminarÁs vezes, a abundância de palavras é-nos necessária para descrever a quase indiferença mútua de um casal que sobreviveu demasiados anos a essa tristíssima indiferença.
Muitos dos casais que fui conhecendo ao longo da vida sobreviviam exactamente assim. outros, poucos, não precisaram de sobreviver na indiferença: venceram-na.
Um abraço!
Esta é uma realidade muito mais comum do que poderíamos pensar. Acho que muitos de nós já presenciámos ou até já passámos por situações parecidas.
EliminarUm abraço.
Ya sabe todo uno del otro, sus largos años de convivencia les ha llevado al aburimiento.
ResponderEliminarUn abrazo.
El amor prolongado que no se renueva pierde su frescura y su contenido.
EliminarUn abrazo.
Os pais são o espelho dos filhos.
ResponderEliminarPor vezes essa circunstância não é
levada em conta, mas nada mais
verdadeiro. Com o tempo os casais
vão entrando num silêncio arroz, seja
nos restaurantes ou em casa.
Já estive no Solar dos Mouros a almoçar
com a minha filha.
Um abraço
Essa é uma realidade nos casais com mais idade e com a vida resolvida. Uma tristeza para o fim da relação comum.
EliminarUm abraço.
...silêncio atroz... (ali em cima)
EliminarPienso que a veces ese silencio no es incómodo ni significa distanciamiento.
ResponderEliminarUn abrazo
Cuando las parejas envejecen ya no tienen nada de qué hablar.
EliminarUn abrazo.
Há muitos casais assim, até compreendo que fiquem, pensarão que apesar de tudo têm companhia. Para mim seria um tormento.
ResponderEliminarÉ muito comum chegar até à ausência das palavras. A companhia do outro faz falta mesmo que em silêncio.
EliminarUm abraço.