Tanto tempo depois
reconheço a estação de onde parti
recordo
a paisagem a correr pelas janelas
as árvores alaranjadas
o rio azul
sob uma névoa rosada
era Outono naquele tempo
ainda não me sentia soldado
mas eu já era um soldado
éramos uma mancha verde
em direcção a um lugar que já não existe
que nos disseram vermelho
levávamos na boca o medo do desconhecido 
porque já tinham aprisionado a verdade
e nós não sabíamos
na verdade nunca me senti soldado 
nem nos combates 
 
voltei tarde
já não havia ninguém aqui
tantos anos depois reconheço 
a estação onde cheguei
e não tenho ninguém à minha espera. 

 



10 comentários:

  1. O tempo não apaga as lembranças, e sim os rostos dos que antes
    nos esperavam. E a foto me faz recordar a estação da minha cidade
    e um expresso que chamávamos de 'maria fumaça' ,era uma festa as chegadas e partidas.
    Bom domingo ,L , com abraços

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    1. Quando voltamos ao lugar antigo já não há ninguém.
      Bom domingo.
      Um abraço.

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  2. A história da Vida... partimos em busca de aventura, identidade, riqueza e no regresso, existem apenas as memórias do lugar...E recomeçamos... a fazer novas memórias...
    Ou não...
    Beijos e abraços
    Marta

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  3. Caro Poeta/Pintor
    Um poema que é, ao mesmo tempo, viagem e regresso, não apenas no espaço, mas dentro da alma de quem escreve.
    Entre o Outono de outrora e a ausência do presente, sente-se a passagem do tempo e o peso de uma guerra interior.
    A imagem do soldado que nunca se reconheceu como tal revela, com delicadeza, a força da vulnerabilidade.
    Tocante, íntimo e silenciosamente poderoso.
    A foto está em sintonia com o trabalho poético.
    Bom Domingo com saúde e paz.
    Deixo um abraço.
    :)

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    1. Muito bem analisado como sempre. No texto há muito de passado e de presente.
      Muito Obrigado.
      Um abraço.

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  4. A tristeza embarcou consigo no início desta viagem e acompanhou-o até ao último verso, L. ... Contudo, a beleza deste poema arrepia-me.
    Não sei que ferramenta da IA utiliza, mas consegue que ela produza imagens fabulosas.

    um abraço!

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    1. Coisas do passado que entram pelo presente.
      Enviei-lhe um mail com a maneira como trato com a IA.
      Um abraço.

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  5. Cuando se viaja a un lugar distante y se regresa al cabo de muchos años ya nada es igual. Los vecinos con que antes te relacionabas ya no vive en esa misma calle y tus más íntimos amigos te encuentras que también ya hace algún tiempo que abandonaron la ciudad buscando un destino mejor y con más posibilidades de subir de categoría en sus respectivos trabajos.
    Que tengas una buena semana.

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    1. Es cierto, esta es la realidad que crea el paso del tiempo. Nosotros mismos ya somos diferentes.
      Un abrazo.

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