Imagem de ChatGPT



Na contemplação da parte longínqua do meu corpo 
os dedos inúteis ___ imóveis 
de tão treinados na fuga se gastaram 
suportam no entanto o edifício antigo
fundações a céu aberto
a parte longínqua do meu corpo 
o último pedaço de pessoa a dar à luz
quando a parte mais importante já era saudada
o lugar onde afinal o outono chega por decreto
do cérebro o lugar mais poderoso
excepto nos maratonistas e outros atletas
também a esses os dedos inúteis ___ imóveis 
tiveram o seu tempo e glória 

contemplo a parte longínqua do meu corpo 
e reconheço nela o respiro
do meu pai e dos meus filhos. 


 


13 comentários:

  1. Tudo pode ter tido o seu tempo e glória, mas não é inútil...
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar
  2. O poeta explora a distância entre a ansiedade corporal e a identidade, destacando a parte “longínqua” do corpo como espaço de memória, esforço e ancestralidade. Dedos inúteis ___ imóveis: sugere paralisação ou esgotamento físico após anos de esforço, mas também a ideia de que mesmo o que parece imóvel mantém memória de uso e tempo. Edifício antigo com fundações a céu aberto: metáfora de construção humana que, apesar de exposta, sustenta-se pela experiência e pela história. “O lugar onde afinal o outono chega por decreto | do cérebro o lugar mais poderoso”: contrapõe a queda sazonal à ideia de que o poder decisivo está na mente, não apenas no corpo. Fecho grandioso: contemplo e reconheço nela o respiro do pai e dos filhos — conexão com a genealogia, memória e continuidade, indicando que o eu está entrelaçado com gerações. O poema dialoga com vulnerabilidade, memória física e legado, sugerindo que a força essencial reside na interligação entre corpo, tempo e linhagem.

    Envergonhada pelo meus comentários longos, mas não resisto!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Brilhante comentário. Vergonha não é palavra a utilizar quando textos como o seu revelam conhecimentos e esclarecem o próprio autor. É um valor acrescentado à publicação.

      Eliminar
    2. Sinto-me mais à vontade quando a outra leitora também analisa a sua POESIA.
      Concordo com a Olinda Melo: ‘Um dos seus melhores poemas.’
      Tem potencial para um trabalho de dez páginas.

      Eliminar
    3. Os seus comentários são importantes para o autor.

      Eliminar
  3. Parte mais distante mas nem por isso menos importante.
    Um dos seus melhores poemas.
    Abraço
    Olinda

    ResponderEliminar

  4. obrigado por este momento soberbo de poesia.
    a análise já foi feita e é de qualidade suprema.

    ResponderEliminar
  5. Não me alongo neste poema.
    Acho que as minhas palavras não estariam à altura.
    Soberbo.
    Comovente pela mensagem.
    Dia Bom.
    :)

    ResponderEliminar
  6. Todas las partes del cuerpo son importantes y cada una cumple una determinada función.
    No quiero extenderme con explicaciones, ya que todo lo que hay expuesto suple todo lo que podría decir yo.
    Disfruta de ese otoño, que ya ha comenzado.

    ResponderEliminar