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Nunca adivinhamos as verdades
que deveriam ter sido ditas
os corpos dominam tudo como as nuvens 
espessas que cobrem a luz insubstituível 
e apagam as sombras que tornam reais
os corpos com o seu desejo na sombra
as palavras ___ as essenciais 
foram substituídas por algo mais próximo 
de cânticos que só os amantes ouvem
esse foi o repetido erro que comprometeu 
o que deveria ser sensato e duradouro
muito invocado tardiamente

esse domínio do corpo foi a lei do consumo
ali ficaram como dois peixes macho e fêmea 
sem futuro sem separação possível
prisioneiros entre dois vidros.


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Eduardo Batarda

1943 - 2025

Foto de Observador



8 comentários:

  1. Há "demasiadas" versões da verdade... e por vezes, fica-se estagnado....
    Beijos e abraços
    Marta

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  2. De nada se pode ficar prisioneiro.
    Um abraço

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  3. A distância entre o que poderia ser dito verdadeiramente e o que é expressado pelo corpo; a dominação do desejo; a falha de comunicação que compromete o que é sensato e duradouro. O corpo é apresentado como força dominante, como “nuvens espessas”que obscurecem a luz essencial e apagam sombras que tornam as coisas reais. A substituição das palavras essenciais por cânticos quase oracionais sugere uma erosão da comunicação autêntica. Linguagem sensorial: há uma tensão entre o que é dito, o que é sentido e o que permanece oculto. A comparação com peixes macho e fêmea ilustra uma relação estática, confinada, sem espaço para futuro ou separação. Melancólico e fatalista, com um peso de crítica à superficialidade e ao consumismo afectivo. A repetição de erros sugere uma fatalidade histórica na relação entre corpos, palavras e desejos. Versos curtos e pausas que intensificam a sensação de inevitabilidade. A imagem de corpos dominando e de palavras substituídas cria um pulso contínuo entre desejo, comunicação e consequência.
    Conclusão: Crítica à mercantilização do afecto: o corpo como lei de consumo destrói a autenticidade das palavras. Dualidade entre presença física e ausência de entendimento: o que é dito não atingindo o essencial. Ambiguidade de desejo: cânticos que apenas amantes ouvem sugerem segredo, intimidade exclusiva que não beneficia a comunicação geral.

    Eduardo Batarda lecionou nas Belas Artes da U.Porto durante mais de três décadas.

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    Respostas
    1. O seu texto interpretativo é brilhante. O autor sempre examina o que escreve ao som das suas palavras... e gosta.
      Obrigado.

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  4. Grata desejo ao pintor e poeta Luís Raimundo Rodrigues um outono 🍂 sereno.

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