Tu eras quem sabia quase tudo sobre a tristeza 
sabias medir a frequência das lágrimas 
sabias como se alterna a melancolia 
com a vontade de comer
sabias quando a poesia se negava
a ser a carne dos nossos ossos
sabias quando a nudez era menos importante 
do que a maneira de falar

tu sabias quase tudo sobre a tristeza
e como fazer perdurar em nós 
a vontade de vida apesar de tudo
por todo esse saber te chamei
no meio da aflição 
mas tu já não eras daquele tempo
o fogo queimou tudo o que eu ainda tinha.


 


10 comentários:

  1. Não se sabe tudo sobre a tristeza... profunda, dorida e extenuante...
    Beijos e abraços
    Marta

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  2. Boa tarde Poeta,
    Belo e comovente este poema que me deixou pensativa!
    A vida traz-nos momentos em que necessitamos do afago de alguém, que já não está, para mitigar os momentos em que a tristeza nos invade.
    Um beijinho,
    Emília

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    1. Estou de acordo consigo. Se não ardemos sozinhos.
      Um abraço.

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    2. Boa tarde Caro Poeta/Pintor
      Um poema de grande intensidade, onde a tristeza é quase personificada como alguém íntimo, com quem se dialoga.
      A cadência dos versos transmite proximidade e confissão, ao mesmo tempo em que o desfecho deixa a marca forte da perda e do fogo que tudo consome.
      Um texto que toca fundo e faz ecoar a vulnerabilidade humana.
      A foto ficou em total sintonia.
      Boa semana.
      :)

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    3. Sempre ricos os seus comentários. O autor também descobre coisas depois de ler as suas interpretações.
      Um abraço.

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  3. Dualidade entre tristeza e vida: o poema articula uma tensão entre melancolia e impulso vital. A matemática da tristeza (medir lágrimas, frequência) contrasta com a “vontade de comer” e, mais adiante, com a “vontade de vida”. Essa justaposição sugere que a dor pode coabitar com o desejo de viver. Melancolia versus nudez e linguagem: a passagem “a poesia se negava | a ser a carne dos nossos ossos” indica que, em momentos de tristeza profunda, a poesia perde o vigor físico, tornou-se menos essencial e menos ancorada na experiência corpórea. A nudez, portanto, não é apenas sexual, mas um símbolo de vulnerabilidade exposta, que tem menos importância do que “a maneira de falar” — ou seja, a forma e a expressão verbal tornam-se prioridade, como se a linguagem fosse o meio de manter a humanidade. Metamorfose do tempo e do fogo: o verso final — “tu já não eras daquele tempo | o fogo queimou tudo o que eu ainda tinha” — traz uma imagem contundente de transformação irreversível. O fogo simboliza transformação, perda e apagamento de algo essencial. A retrospectiva aponta para uma mudança que não pode ser revertida, mantendo o lamento e a solenidade.

    A imagem reforça essa ideia de domínio e de uma relação de proximidade que se foi desfazendo com o tempo.

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    1. Muito completo o seu texto interpretativo. Sem dúvida que estes seus comentários são importantes para a leitura dos escritos do autor. Descubro-me lendo atentamente aquilo que escreve.

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  4. La tristeza viene sin buscarla. Es dificíl salir de ella, pero si te lo propones con firmeza, puede desaparecer.
    Un afectuoso saludo.

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  5. Tristeza que ecoa na minha tristeza e dela preciso como da alegria

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