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Um dia sinuoso começava 
chovia sobre as minhas certezas
a cabeça pendida entre as mãos 
a língua seca por falta de palavras 
o telefone silencioso
o encontro adiado com o teu corpo 

o pó 
o silêncio 
tenho aqui um coração cansado
a queixar-se das minhas certezas
que estão a empurrar-me para o presente
para os dias sinuosos

a mão sobre o peito acalma

vou sossegar cuidando
da minha colecção de borboletas 
e trespasso esta Seda-Azul
com um alfinete.


 


8 comentários:

  1. O presente pode ser sinuoso...cheio de momentos de contradição... busca-se algo estável para que nada seja esquecido...
    Beijos e abraços
    Marta

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    1. Nunca se tem a certeza de nada ou melhor, nunca nada é certo.
      Um abraço.

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  2. Estamos a viver um período muito conturbado sem qualquer empatia com o próximo mas acredito que tudo passará e temos de navegar com o gargalo de fora. A borboleta assim o diz:)
    Beijos e um bom dia!

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    1. Gostei da expressão "gargalo de fora". Faremos os possíveis.
      Um abraço.

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  3. O poema transmite uma sensação de tranquilidade e delicadeza, contrastando o sossego de cuidar da coleção de borboletas com o gesto contido de trespassar a Seda-Azul com um alfinete. Há um equilíbrio entre preservação e uma pequena interrupção ritual, quase como se a prática de observar e cuidar fosse ao mesmo tempo uma forma de domesticar o mundo, mantendo-o seguro e contido. A linguagem simples realça a serenidade do momento, enquanto o detalhe do alfinete acrescenta um toque de fragilidade e de precisão.

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    1. Muito curiosa a sua análise, confesso que sempre interpreto os meus escritos através dos seus pormenorizados comentários. Como aliás acontece com as interpretações que os meus leitores/as fazem.

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  4. O poema é belíssimo e quase, quase subscreveria a análise da Teresa se não me sentisse obrigada a confessar que o último verso me provocou um profundo arrepio... É como se pressentisse que muitos de nós estamos em grave risco de sofrer uma sorte algo semelhante à dessa bela azul-seda...

    Um forte abraço, L.

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    1. Interessante a conclusão do seu comentário, eu próprio fiquei a pensar nessa possibilidade da sua interpretação.
      Um abraço.

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