Foto de Daniel Filipe Rodrigues



Somente os verdadeiros sofredores
são capazes de uma seriedade autêntica. 
Emil Cioran 


Informo-te como é minha obrigação 
de que vou partir
a parte do meu corpo que ontem te entreguei
não poderás ficar com ela
para ti será apenas uma memória 
deixo-te as recordações 
as fotografias
os poemas
o meu frasco de perfume quase acabado

ouvirás falar de mim
e a tua presença será solicitada
traz-me os meus sapatos do nosso casamento. 


 


10 comentários:

  1. A ideia sugere que a profundidade de comprometimento e reflexão nasce do sofrimento real, não de pose ou aparência externa. Questiona-se se a seriedade autêntica decorre necessariamente do sofrimento, ou se pode surgir também de responsabilidade, curiosidade ou empatia. A citação pode soar pessimista: o valor da seriedade estaria vinculado a dor, o que pode excluir pessoas que lidam com desafios de formas distintas. Num contexto contemporâneo, é útil pensar na seriedade como disciplina, humildade intelectual e constância, independentemente da quantidade de sofrimento vivido.

    Tanto o poema como a fotografia expressam uma enorme quantidade de sofrimento vivido.

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  2. Acompanhemos o tempo _ lembranças são presentes: fotografias, perfumes ,poemas.
    ... e sapato velho... bem humorada minha filha diria : pro lixo, mãe..
    Feliz dezembro que já chega, Luís. Abraços

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  3. Aiii homem tu és uma montanha de emoções tão sofridas que é dose e ainda pedes a ela os teus sapatos do casamento? Para aligeirar a coisa já agora pergunto:qual a música que preferes para colmatar o teu sofrimento embora saiba que:

    «O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.»F.Pessoa!
    Um abraço e não leves a mal :)

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    1. Penso que a poesia deve tocar a sensibilidade de quem a lê, nem que seja para a rejeitar.
      Gosto dos seus sinceros e bem humorados comentários
      Um abraço.

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  4. Mas, às vezes, parte-se sem uma palavra, sem uma explicação... e a dor rasga-nos... e a alma fica vazia...
    Beijos e abraços
    Marta

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  5. Eu ouço: “vou-me embora”, mas os sapatos, quietos à porta, continuassem à espera, teimosos, no mesmo lugar.
    No cabedal gasto ainda se escutam passos antigos, como se o amor pedisse baixinho, mais uma última dança.

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    1. Os sapatos conhecem todos os caminhos e são fiéis a quem os calça.
      Um abraço.

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