Lívio Krashin era um pianista famoso.
Naquele dia ao acordar
percebeu que a agitação habitual de dia de concerto
Ihe provocava uma angústia diferente.
Como todos os dias sentou-se ao piano para praticar.
As teclas brancas ganharam luz,
ficaram de tal modo reluzentes que o cegavam
ao ponto de não conseguir tocar.
Uma, duas, várias vezes tentou
mas a luz branca arremetia brilhante e dolorosa.
Descansou até à hora do concerto.
Entrou na sala sob aplausos,
sentou-se, ajeitou o banco, ergueu as mãos em posição… 
… logo o teclado branco, ondulando
parecia lançar-se como uma dentadura reluzente 
pronta a decepar os seus dedos.
Passou as costas da mão pela testa limpando o suor, 
fechou os olhos, esperou um pouco…  
… e saiu da sala sob um silêncio espantoso.
Auguráram o fim da sua carreira.
Recorreu a tratamentos físicos, psicológicos, psiquiátricos,
leu manuais de ajuda, chorou,
desesperou até encontrar a solução.
É hoje o único pianista no mundo inteiro
que toca num teclado de apenas teclas pretas.


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