Roque Gameiro



Hoje quero fazer um poema feliz. 
Tento imaginar algo que me espante, que me agrade. 

Imagino por exemplo
como deve ser feliz construir uma ponte entre dois pontos
ou
sentar-me a olhar os do futuro brincando saudáveis e alegres
ou 
ver pares sorrindo tranquilos depois de cumprida a tarefa do seu dia.
Mas não, são temas triviais

Tento então imaginar
um deus em que acredite, bondoso, equilibrado, justo
que evite as tragédias e o mal 
que evite ser motivo de embuste e crueldade,
mas não me ocorre.  

Entretanto, de tanto imaginar se fez noite, há pouca luz. 
Talvez amanhã, ou depois, noutro ano, noutro século 
ou nunca.


15 comentários:

  1. Podem perecer-lhe temas triviais
    esses da alegria simples de um final de dia
    ou ficar sentado a ver as crianças brincando felizes
    mas eu gostei
    e prefiro esses pequenos prazeres
    aos deuses com poderes irreais.

    No fundo, fez um poema feliz.

    Boa e tranquila noite.

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  2. Gostei, talvez exactamente por nunca procurar, eu própria, escrever a partir de um tema... com excepção das glosas e coroas poéticas, em que há que se pegar no que nos ficou do poema anterior, todos os poemas me nascem de pensamentos mais ou menos banais que se vão desenrolando como os fios de uma meada.

    Sinceramente, não creio que este seu poema seja feliz, ou melhor, não creio que seja um poema feliz, embora eu o considere um bom poema. Creio que é um poema que duvida da sua própria identidade poética.

    Abraço, L.

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    1. Muito obrigado pela sua análise. Este poema nasceu do facto de alguém ter deixado de me seguir por achar os meus textos angustiantes. Gosto sempre das análises que têm a amabilidade de fazer, mesmo que com sentidos contrários. Tomo sempre em conta. Obrigado.
      Bom Dia

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  3. Concordo com uma das mensagens de quem comentou anferiormente
    Este é um poema de dúvida da identidade poetica
    E bem escrito

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  4. Linda é a mensagem
    Que na mente entoa
    Maravilhosa a viagem
    Onde o imaginário voa

    .
    Fim de semana feliz

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  5. Pelo desculpa, mas discordo veementemente da eventual descrença poético do autor, neste poema, conforme opiniões acima.

    Creio haver subentendido uma tentativa algo irónica, sobretudo no parágrafo final, de que alterar a sua forma de escrever, de modo a que a seguidora desistente, pudesse também ela, alterar a sua visão acerca do que o autor escreve, acontecer hoje, amanhã ou...nunca!
    Porquê? Porque ninguém consegue mudar a sua verdadeira essência.

    Peço a compreensão do autor do blogue. :)
    Obrigada.

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    1. Estou muito de acordo com o seu comentário e acho que detectou a verdadeira intenção do texto, até melhor do que eu que nem tinha pensado nisso. Obrigado
      Bom Dia

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    2. ...a ironia sempre presente...mas eu gosto!

      Bom Dia.

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  6. Três recomendações e uma declaração:
    - Faz poemas felizes todos os dias, mesmo que os não escrevas ou digas;
    - Abomina o teu imaginário, remete-te, como a esperança, para ficares à espera que aconteça:
    - Nunca digas a palavra nunca

    Eu declaro que aquele ponto para o qual constróis pontes, me merece mais respeito que qualquer Deus real ou imaginário

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    1. E gostei muito do teu, também poético, comentário. Ficamos contentes quando suscitamos um comentário mais profundo. Obrigado
      Bom Dia

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  7. Eu acho que este é um bom poema.
    Sabe Poeta, escrever poemas felizes, não é fácil.
    Este pode nao ser feliz, mas que é bom isso é.
    :)

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    1. É um elogio este seu comentário, é uma honra ler as suas palavras. Obrigado.

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