Ouvi dizer, ao longe, quando vens. 

Posso assim abrir uma clareira

no mato em volta da minha casa. 


Sempre me disseste que a minha casa

"era um sossego" e assim ficou

depois da tua ida sonâmbula. 

Cresceu o mato em volta da casa, 

é verdade, mas também 

na minha memória de ti. 

Tudo se afogou na falta de palavras

até os vasos com flores,

as tuas flores como dizias, 

ficaram velhas e morreram. 


Ouvi dizer, ao longe, que ias voltar

para o sossego da minha casa. 

Esta noite deixo-te a luz da porta acesa

e a mesa posta com tudo de que precisas. 

À hora a que voltares não terás 

de rever a minha boca, os meus olhos

ou ouvir a minha voz

transtornada pelo teu regresso, 

estarei longe embora ficando aqui. 


Deixa de novo crescer o mato

em volta do sossego da minha casa.




15 comentários:

  1. O nosso mundo como fortaleza onde só entra quem permitimos, e com quem nos sentimos bem

    Gostei

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    1. Agradeço a sua interpretação, gosto da sua visita. Obrigado
      Boa Noite.

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  2. Ai, que poema mais desencantado e desencontrado!
    Ora vai um e o outro fica saudoso, mas se chega o que primeiro partiu
    logo de seguida parte o que ficou.

    Bem, mas a poesia também se faz de passes-de-mágica.
    Assim sendo, eu vou ser o prestidigitador e coloco-os lado a lado, do princípio ao fim.

    A frase da gravura lembrou-me aquele filme sobre a vida de Benjamin Button, em que o personagem nasce velhinho e vai rejuvenescendo.
    Uma soberba interpretação de Brad Pitt. Viu o filme? Eu vi duas vezes.

    Boa Noite!

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    1. Ah, e gostei muito do poema, claro que sim... :-)

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    2. Muito obrigado pela humorística análise, achei graça. Não vi o filme mas já sabia da história. Obrigado pela visita já habitual.
      Boa Noite.

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  3. ... e por que não um poema aparentemente paradoxal?

    Ficcionado ou não ficcionado, pouco importa porque a verdade é que seria exactamente assim que, em determinado tempo, eu teria recebido determinada pessoa em minha casa, se por qualquer razão isso me tivesse sido imposto. Daí que me seja facílimo entendê-lo, bem como afeiçoar-me às suas árvores/nuvens.

    Abraço, L.

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    1. Interpretação muito objectiva e correcta. Fico agradado por gostar destas pequenas aguarelas. Muito Obrigado.
      Desejos de saúde. Até logo.

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  4. Bem pode haver ausências assim, e esperados regressos também...
    Invejo esse seu talento em dar a volta a coisas tristes e torna-las esperançosas
    (Por mais que deixe a luz acesa
    e a mesa posta
    ela não volta )

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    1. Obrigado pela interpretação que fez do texto e também pelas palavras simpáticas que sempre me dirige.
      Estimo muito as suas visitas aqui.
      Obrigado.
      Até logo.

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  5. Obrigado pelo texto. Mais é triste em saber que estão fazendo muitas clareiras na Amazônia e no Pantanal do Brasil.

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    1. Tem toda a razão na sua tristeza, também eu vejo com preocupação o que se está a passar e que prejudica o mundo inteiro.
      Obrigado por ter vindo.

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  6. Quando eu for uma alma penada entro, que a porta está aberta, a mesa posta e ninguém à vista.
    :)
    (o que para uns é tenebroso, para outros é saudoso)

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    1. Sempre um comentário espirituoso, aprecio e agradeço.
      Uma noite descansada.

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  7. Há ausências, que nunca mais serão presença.
    Triste mas real.
    Há presenças que se querem ausencias.
    Real e triste.
    Não sei qual a mais triste.
    Um poema melancolico que nos deixa a pensar.
    Bom fim de semana.
    beijinhos
    :)

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    1. Sempre interessantes os seus comentários, que agradeço.
      Bom domingo.

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