Como será depois


Os vivos, o que farão os vivos? 

Construirão casas com jardins em volta

e morarão nelas com as suas famílias 

de forma a que façam da vida a experiência 

que todos tomarão nas suas mãos. 

Desenvolverão a consciência da sua grandeza

e confiscarão os palácios dos poderosos, 

as suas terras e as suas máquinas 

tanto as que serviram para construir

como as que serviram para destruir. 

A esses, ser-lhes-à dada uma casa e trabalho, 

como a todos os outros, sendo-lhes reservadas

as tarefas difíceis como mineiro, coveiro, bombeiro,

talhante, astronauta e outras profissões de risco. 

Nesses deveres se forjará o seu conceito de justiça 

e essa experiência fará germinar os seus filhos

como árvores na vasta floresta diferente

mas igual no suor, no pranto e na felicidade. 

Do imprevisível nascerá o acto de amor

que será a legislação única e sem interpretações

para que se voltem as páginas do tempo, 

para todos ao mesmo tempo. 

Será assegurado como um direito memorial

que as falas dos seus velhos se atravessarão

nos seus peitos e essa será a substância do futuro. 

No lugar dos deuses será posto o homem

que não mais precisará da vigilância 

do imaginário inexplicável. 


Assim será depois. 




 

24 comentários:

  1. Que direito assistirá a esses sobreviventes
    para confiscarem o alheio? Palácios e riquezas, dispenso.
    Trabalho para todos e que todos saibam gerir bem os seus proventos, sem consumir mais do que aquilo que necessitarem.
    Sem desperdícios, para depois não cobiçarem o que os outros conseguirem mercê da sua vida regrada.

    Já a felicidade e o amor seria colhido consoante a própria sementeira.
    Doutro modo será demasiado utópico, mas se quer sonhar e que sonhemos...vamos lá!

    Gostei bastante da simplicidade da gravura ou aguarela, o que seja.

    Mas...paradoxalmente, nas suas nuvens, raramente aparecem duas lado a lado...
    Uma, sempre está num patamar superior! Não devia, pois não? :-)

    Boa Noite. Durma bem.

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    1. Não vou comentar o comentário, claro. Quanto à aguarela, nunca tinha pensado nisso, de estarem dois elementos lado a lado, mas é uma possibilidade que explorarem em breve. Obrigado pela sugestão
      Boa Noite, descanso também nesta noite.

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  2. Poema intenso, forte, escuro, que lembra a poesia de Paul Celan.

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    1. Muito obrigado pelo comentário, tomo como um elogio a comparação que fez.
      Desejo-lhe uma Boa Noite.

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    2. A sua poesia lembra-me a poesia de Paul Celan desde o momento que a li.
      Impressionante a chuva de sangue da imagem.

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  3. Olá!

    Passei para inteirar-me do que nos vai trazendo

    e deixo

    saudações poéticas, para si!

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  4. A dissecação do eu, como passaporte para que o criador literário continue sem destino, rumo ao infinito

    Gostei da crueza

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    1. Uma interpretação do texto que lhe agradeço. Obrigado pela sua habitual visita.
      Bom Dia.

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  5. Neste seu poema, vejo o quadro de um futuro pelo qual muito ainda há que lutar! Não fora aos vivos "serem dados" apenas cargos de risco, foram eles a apossar-se dos cargos, arriscados ou não, tal como se apossaram dos palácios dos poderosos e das suas poderosas máquinas, seria o quadro de um futuro ideal.

    E como gosto destas duas específicas árvores/nuvem!

    Abraço, L.

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    1. A luta pela sociedade equilibrada é diária mas ainda longa, achamos nós, pois em qualquer altura um acontecimento imprevisível pode conduzir a um avanço civilizacional, ou não. Como já aconteceu.
      Um abraço

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    2. Tem razão, L. Estamos a viver um momento de altíssima tensão, a nível mundial; a qualquer momento, tudo pode avançar... ou rebentar-se a corda e tudo recuar desamparadamente.

      Outro abraço

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    3. Obrigado pela sintonia.
      Um Abraço também.

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  6. Muchos han tomado esa lucha por bandera, pero todo ha seguido igual. Lo único que ha variado es el cambio de manos de esa riqueza, en el fondo querían gozar de privilegios, riquezas y honores y tener a la población como ciervos de ellos.

    Besos

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    1. La lucha continúa en todo el mundo, con avances y retrocesos, pero sin duda habrá una posibilidad para un mundo más equilibrado.
      Agradezco tus comentarios siempre aclarados.
      abrazo

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  7. Se me pedissem
    que dissesse
    um poema retratando a utopia
    eu
    seria este o que diria

    (mudar o mundo não custa muito, leva é tempo)

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    1. Estou de acordo consigo e agradeço o elogio implícito nas suas palavras.
      Boa Tarde.

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    2. Assino o teu comentário, Rogério.
      Aproveito para te dizer, que te estou profundamente grata por me teres dado a oportunidade de conhecer "brancas nuvens negras". Mesmo assim, NÃO voto no candidato do teu partido, embora o tipo até seja simpático.

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    3. Tenho de agradecer pela parte que me diz respeito.
      Obrigado

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  8. «Desenvolverão a consciência da sua grandeza
    e confiscarão os palácios dos poderosos,
    as suas terras e as suas máquinas
    tanto as que serviram para construir
    como as que serviram para destruir.»

    Eu leio esta parte - que não devia estar num poema que clama por justiça - e não acho isto sociologicamente actual.
    Devia ser feito à maneira de Jesus Cristo - "convertê-los" e eles próprios se despojariam a favor dos menos favorecidos e caminhariam depois uns ao lado dos outros pelos seus trajectos de vida. Irmãos. Amigos. E não camaradas.

    A evolução artificial não está longe. Vamos ser como as colmeias de abelhas. Em cada embrião será implantado o gene que determinará a função que vai ter na vida. A paz e a justiça serão artificiais mas existirão. Parece repulsivo mas os vivos que estarão vivos hão-de entender que estão melhor assim do que como os seus antepassados estiveram.

    Assinado: Sinuosa, a Visionária.
    :)

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    1. Não vou comentar o comentário porque a missão de quem escreve é aceitar as opiniões e as interpretações que, em alguns casos, enriquecem o autor.
      No entanto, se o texto publicado fala de uma utopia, julgo que a solução que apresenta é uma utopia ainda maior.
      Gostei muito da deferência que teve ao fazer um comentário profundo.
      Até logo.

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  9. Ai!
    Este poema está escrito ao contrário.
    O futuro foi o passado.
    o presente nao existe.
    e tudo o mais é utopia
    ou será um caos na minha cabeça

    :(

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    1. São sempre curiosas e profundas as suas análises, como esta que fez agora.
      Muito Obrigado.

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