Na casa onde viveste, junto ao porto

há uma toalha de xadrez sobre a mesa. 

Ao fundo quase à beira, um vaso

com um cacto de três caules verticais. 

Os quadrados pretos e brancos 

exercem uma espécie de hipnose

quando fixo o olhar no cacto verde escuro

que está à frente do teu retrato. 


Não sei bem se essa tontura prolongada

que cruza o meu olhar hialino

não será o amargo silêncio 

que envolve a tua fotografia de criança 

ao colo da tua mãe 

que conservei no mesmo lugar de sempre. 


Acordo do torpor com o sinal sonoro

grave e longo 

do navio a partir. 





 

31 comentários:

  1. Bonito exercício de poesia descritiva
    Gostei

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  2. Uma imagem diferente, menos suave e mais concreta.
    Um poema bem intimista.
    Noite descansada de navio a ficar no porto.

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  3. Uma das grandes inovações dos blogs, para os poetas, foi a de poder servir um poema grafado sob uma imagem que inevitavelmente com ele dialoga.

    Gosto de cactos e gosto de poemas. Obrigada pela oferta deste diálogo matinal, L.

    Abraço

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  4. Meu caro
    tenho normalmente
    um comportamento
    que diria malcriado

    Quando chego, não cumprimento
    Quando saio, não me despeço
    E é raro deixar um elogio
    Mas hoje faço traição
    a tal tradição

    É que seu(s) poema(s)
    criam um tal ambiente
    que até dão tangibilidade
    àquilo que a gente sente

    Que a teu navio
    seja dado
    o rumo esperado
    e que o mar lhe seja calmo

    Abraço

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    1. Fico sensibilizado com a excepção que abriu depois da leitura. Fico sensibilizado. Também visito o seu blogue e como sou um apoiante das suas posições, também comprometido, raramente comento mas relembro esta frase "vogamos no mesmo mar e sob a mesma bandeira".
      Obrigado e até logo.

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  5. Elogio a inspiração e criatividade manual inserta na feitura da tela. O Poema é lindíssimo.
    .
    Um dia feliz
    Saudação poética

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    1. Um grande obrigado pela assiduidade da sua visita e pelas simpáticas palavras.
      Até logo.

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  6. Gran poema, con una descripción muy precisa. Esa imagen, hace el complemento perfecto a esa buena descripción.

    Besos

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    1. Agradezco su visita y sus amables palabras.
      Te deseo un feliz día.

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  7. Boa Tarde, Sr. das Nuvens!

    Não vejo cacto verde, mas dourado
    não vejo toalha e sim um deserto.
    Vejo um desenho lindo sem ver o retrato
    e um poema triste de memórias
    tão longe e tão perto...

    Adorei a publicação de hoje, reflexo de uma alma sofrida.

    Um abraço e até logo.

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    1. Boa tarde. Gostei da conclusão do seu comentário que agradeço.
      Então até logo.

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    2. Caramba! Esperava uma recepção mais calorosa...
      Está mal disposto?
      Quando é que aceita um abraço meu?
      Olha que isto de abraços virtuais não propagam o vírus, no caso de eu estar contaminada, vá!
      Depois vai-se queixar para a vizinhança, que é vítima de maus-humores.
      Que direi eu, Senhores!

      Ó Dona Sinuosa, venha cá em meu auxílio...

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    3. Aceito o abraço e retribuo. Peço que me desculpe mas não sou uma pessoa efusiva. Fico a saber que conhece alguém que mora perto de mim, no entanto, será difícil alguém a ter informado dos meus desabafos dado que não mantenho qualquer relação próxima com vizinhos.

      Sempre exprimi o enorme agrado que tenho em receber comentários dos leitores, onde a Dona Janita está incluída, sendo até das primeiras a vir ao meu blogue.
      Agradeço-lhe a sua assiduidade e continuo a contar com ela.
      Muito Obrigado.
      Um abraço e até logo.

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    4. Ah, assim já fico mais satisfeita... :-)

      Quando falo em vizinhança, sem que seja em resposta a quem já a mencionou, refiro-me a vizinhos do nosso blogobairro.

      E pode excluir o Dona, sff, só Janita já está bom.

      Obrigada.

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    5. Muito obrigado por este diálogo, é isto que dá vida e justifica a existência deste espaço.
      Estou reconhecido.

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    6. Janita, o Sr das Nuvens expõe-se tanto nos seus poemas ficcionados e ainda ia acatar o "ser uma alma sofrida"?
      Não! um homem é um homem e um gato é um bicho!
      :)

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    7. Ó Sinuosa...não seja sarcástica.
      Então, a tontura provocada pelo padrão da toalha de xadrez,
      naquele olhar transparente e límpido, que olha uma foto de infância,
      a mim, soou-me a um recordar de alguém que tem a alma dolorida por essas mesmas recordações...
      Deixe-se lá de gatices que não vêm nada a propósito. Não foi para isso que pedi o seu auxílio.

      Afinal, eu e o autor do texto, acabámos por nos entender.

      All the people need is love...

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    8. Não fui 100% sarcástica. Acho elegante um homem não ser "mole".
      :)

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    9. Prefere homens rudes, machistas? Eu não!
      Elegância no trato e no sentir, é haver sensibilidade para expressar os sentimentos.
      Independentemente do género... :)

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    10. Fico encantado com o vosso diálogo. Receio não ser merecedor de tanta atenção, mas sinto-me honrado. Não deixem de vir logo aqui porque publicarei um texto algo diferente.
      Muito obrigado a Janita e a Sinuosa.

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    11. Janita, independentemente do género, gosto de gente apaixonada e não gosto de gente melada.
      Agora é que a vizinhança vai ficar a saber das nossas quedas para isto ou para aquilo.
      :)

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  8. Tem que deixar soltarem-se umas lágrimas para o olhar deixar de ser hialino e ficar transparente, e presente, Sr das Nuvens!
    (achei esse verso inesperado e marcou o seu poema hoje)
    :)
    A imagem, é um utensílio de madeira (em forma de forquilha tosca) a fazer equilíbrio num tabuleiro de damas, como salta à vista de todos!
    :)

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    1. Obrigado pelo seu comentário, engraçado como sempre. A interpretação do desenho é que não está correcta, de facto é um cacto.
      Até logo.

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  9. Boa noite. Não sei jogar xadrez, só um pouco de Dama. Mais sei que é um jogo para pessoas muito inteligentes. Mais o desenho é maravilhoso e com o texto brilhante, nota 10.

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    1. Comentário simpático que agradeço. Aprecio a sua visita.
      Boa Noite.

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  10. Interessante!
    Eu vejo um homem a olhar a criança e a mãe numa foto antiga(a sépia ou P&B).
    Tudo o envolvente é apenas memória.
    Só a foto é real.
    E nela estão o autor e a sua mãe.

    ;)

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    1. Imaginou a cena muito bem, corresponde ao que o autor concebeu. Certeiro o seu comentário.
      Obrigado

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