Estou sentado, vejo duas pernas

brancas, magras sem pêlos 

outrora eram grossas e coradas. 

Decido pôr as minhas mãos 

sobre as pernas brancas repousadas

para ter a certeza que são minhas. 

Vejo duas mãos escuras alongadas

com os caminhos do sangue que se mostram

e várias manchas castanhas ou douradas. 

As pernas não são minhas e

estas também não são as minhas mãos. 

Confronto-me então com um espelho

e vejo aquela estranha boca

que me diz que não sou eu, 

confirmo ao ver a falta de cabelo, 

as rugas e os olhos com saudade. 


Acredito que as pernas, as mãos, a cara

não pertencem ao meu corpo. 

Entendo agora, feliz, 

que não sendo aquele o meu corpo

este que sou e que nem corpo tem

jamais deixará de existir.




26 comentários:

  1. O poema expressa um vazio existencial.
    A imagem encantadora.

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    1. Obrigado pela sua visita e pelo seu comentário.
      Desejo-lhe uma noite descansada.

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    2. Estou de acordo mas manda a delicadeza que eu deseje uma noite descansada e não uma noite tumultuosa.
      Sendo assim, digo apenas Boa Noite.

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  2. Não é fácil a aceitação das alterações que o tempo
    vai provocando no corpo e no rosto de todos nós.

    Mas o bom de todo esse desconforto, é sabermos que por dentro, continuamos iguais.
    Sem alterações. Sonha-se e deseja-se viver, amar, rir.
    Os vinte anos continuam a morar em mim.
    Penso que consigo será igual.

    Hoje temos as nuvens a despejar água em abundância...

    Boa Noite. Amanhã voltarei para reler tudo. :-)

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    1. Estou de acordo, acho até que, em certos aspectos, hoje estamos em melhores condições (salvo as físicas).
      Uma noite descansada. Obrigado pelo comentário.

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  3. O tempo custa tanto a encarar e a derrotar.
    Leva nos ao conformismo doentio
    Gostei

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    1. Vamos superando os contratempos e os sinais do tempo.
      Obrigado pela visita e pelo comentário.

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  4. Um poema possível pela inexistência do elixir da eterna juventude.
    Abraço.
    Juvenal Nunes

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    1. Essa descoberta teria mais êxito do que a vacina para o mal que nos aflige.
      Obrigado pela sua visita e pelo comentário.

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  5. Interessantíssimo, o final deste seu poema a que nem um título ofereceu, L.

    Tendo tanto órgão interno a gritar a sua respectiva disfunção, nunca me dou ao trabalho de me contemplar ao espelho (que não tenho) para descobrir as pegadas do tempo no meu corpo... ou no do meu reflexo. Se porventura o fizesse, muito provavelmente não veria um décimo dos estragos que realmente me afligem, nem me ocorreria que esta que sou jamais deixaria de existir. Pois se a morte é tão necessária à vida quanto o nascimento, por que haveria de querer-me eterna?

    As suas árvores/nuvem chovem a bom chover. A última promete um verdadeiro dilúvio, relâmpagos e um remoinho de vento...

    Abraço, L.

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    1. Os seus comentários são sempre interessantes. Por vezes receio que os meus textos sejam algo deprimentes mas também penso que isso não pode tolher a criatividade e a divulgação. A alguém aproveitará dar nota destes pensamentos que assaltam o homem/mulher e escrevo-os, seja realidade ou ficção.
      Muito Obrigado e até logo.
      Um abraço.

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    2. E pensa muito bem, L.

      Se a criatividade se deixar condicionar pelo receio de agradar ou desagradar a quem lê, conduz a poesia a uma deplorável pobreza literária. No poema deve caber TUDO o que cabe na alma humana.

      Outro abraço!

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    3. Inteiramente de acordo. É o que eu pratico.
      Obrigado pelo apoio.
      Abraço

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    4. Depende, senhores! Ler (ou ouvir) certas coisas pode fazer-se por empatia, vocação, ou profissão.
      Eu sinto empatia pelo Sr das Nuvens!
      :)

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    5. Só tenho a agradecer tanta simpatia.
      Obrigado

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  6. Suelo tener la piel muy blanca y eso cambia cuando voy a la playa en el verano. Cuando llego y me pongo el bañador al contemnplar las personas que desfilan ante mis ojos, me parce que la más blaca soy yo. Luego cuando pasan los días y voy tomando color, veo que en la playa hay otras pessonas con la piel tan blanca, como la tenía yo. Este año no he ido ningún día a la playa y no me he podido poner morena.

    Besos

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    1. Gracias por tu comentario. Yo siempre soy blanco, no me gusta la playa, este año aquí tampoco fue aconsejable.
      Un abrazo

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  7. O Poema parewce-se ser uma viagem pelo imaginário, e quando assim é, tudo pode ( ou não ) acontecer.
    Gostei da tela.
    .
    Um dia feliz
    Saudação amiga.

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  8. Penso que consigo decifrar os códigos da moldura da pintura:
    - São as mãos, com 5 dedos de cada lado a segurar a aguarela.
    - Os OVNIS de 5 pernas é que ainda não sei o que representam...
    - Em baixo, a cabeça com cabelos e nela um coração com 4 corações satélites, e tudo apoiado em 5 pernas grossas e azuis?
    - Em cima, uma alma de coágulo de sangue que se desprende do corpo em baixo?
    Ou sou muito rebuscada nas interpretações ou não é fácil...
    Também não foi fácil escrever esse poema, mas sentiu-se recompensado com o resultado, não sentiu, Sr das Nuvens?
    Ficou muito bem!

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    1. Não imagina quanto me ri com a interpretação da aguarela. Nunca me ocorreu tal animação num trabalho feito com simplicidade e sem procurar que seja algo de concreto. Acheia muita graça e continuo a rir.
      O texto, sim, talvez alguém tenha gostado.
      Muito Obrigado pelo que escreveu e que me divertiu tanto.

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    2. Fico desapontada! Nem no significado da moldura acertei?
      Está bem que a desenhar deixemos a mão livre de pintar o que quer. Mas quase invariavelmente, depois, encontramos um sentido, ou nas cores ou nas formas! Está a negar isso?

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    3. Não nego, apenas deixo a cada um a sua interpretação. E fico satisfeito de ter despertado a sua imaginação.
      Mais uma vez obrigado.
      Boa Noite.

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  9. Caro Poeta/Pintor

    gostei da aguarela que achei deu uma certa leveza ao texto, embora tambem a interpreto â minha maneira, que tambem tem ontras nances.
    o texto é duro cheio de metaforas mas que nos leva a pensar no vazio em que âs vezes nos afundamos ao ver que a vida passa a correr num tempo que nos foi emprestado.
    mas, o poeta fechou com chave de ouro o seu trabalho poético.
    o Poeta é imortal

    beijinhos
    :)

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    1. Leio com muita atenção os seus comentários e retenho as suas opiniões. Agradeço as suas enriquecedoras visitas.
      Obrigado

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