Hoje não tenho palavras para vos dar. 

Tudo em mim são sensações, devaneios, arrependimentos. 

Não tenho espaço para palavras, 

só me apetece mentir. 

E as mentiras que tenho preparadas são todas sem palavras,

são gestos intemporais, inadequados, são sentidos como a dor. 

E minto. 

Digo que já não dói, 

que não há dor que me mate, 

que não há calor que me aqueça 

nem frio que me arrefeça,

que sou amante do noturno

e do gosto de estar só. 

As palavras estão saturadas e neste exercício verbal

acabo a mentir a mim próprio.




14 comentários:

  1. A mentira como companheira de recurso.
    Que optamos por ignorar mas está lá para o que der e vier
    Gostei

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    1. Temos de recorrer a soluções que nos levem a entendermo-nos.
      Muito Obrigado e uma noite descansada.

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  2. Ou eu estou a ficar mais piegas - o que de resto nem admira, até porque se diz que a idade adocica os temperamentos rebeldes -
    ou, então, mesmo sem as palavras que diz não ter, escreveu o texto poético mais enternecedor que já aqui li.

    Minta a si próprio, sem culpas, e minta-nos a nós que o lemos.
    Afinal, na poesia vale tudo. Fingir que estamos bem e o contrário também.
    Sofrer na vida e sentir dores na ficção, é masoquismo.
    E nós não queremos isso, pois não?
    Em poesia, quanto menos verdades se disserem, melhor se escreve.
    A dor é inventada e a alegria é mascarada de lágrimas.

    O que queremos é cobrir de pétalas aveludadas, o resto do caminho que nos resta percorrer...
    ( o que diria a Sinuosa disto? )


    Boa Noite e um bom Domingo.

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    1. É compensador receber um comentário expresso num texto como o que teve a amabilidade de me dirigir. Falamos connosco e disso damos conta falando para os outros, escrevendo. O resto do caminho, como será? Atapetado com...
      Boa Noite e muito obrigado.

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    2. Eu digo que a Janita é um hino à vida e à alegria.
      :)

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  3. Diz o povo sabiamente:
    «Com a verdade me enganas.»
    Mas o filósofo aconselhava: «Conhece-te a ti próprio.»
    Mentir a si mesmo não é defeito: é castigo.
    Bom domingo.

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    1. O seu comentário analisa o texto com objectividade, agradeço a atenção que dedicou.
      Bom Dia, aguardo a próxima visita.

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  4. A nós, leitores, o texto oferece grande riqueza de sentimentos realçada pela negação. Ao autor, pergunto-me para que lhe terá servido a mentira se esteve sempre consciente de que mentia a si próprio?

    Não sei se desabafo, se mera estratégia de produção de texto poético... e que importa se um, se outra? O texto continuará a ser soberano, bem como a árvore/nuvem que hoje chove sobre uma árvore que nos apresenta como comum.

    Abraço, L.

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    1. No meu caso, quando escrevo, o texto vai crescendo, nem sempre coerente, reconheço, depois componho uma ponta ali, uma outra palavra acolá e assim, chego ao final. Gosto por isso de ouvir os comentários que o texto suscita, para mim isso dá "cor" ao que ficou dito. Obrigado pelos seus comentários.
      Até logo.

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  5. Eu acho que o poema hoje está muito bem mentido.
    :)

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  6. Este poema é uma meia verdade pincelada com uma mentira inteira.
    Mentir? EU! Só minto a mim própria, mas sei que minto!

    :)

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