As roupas falam de nós
Abro a tua boca metálica e dou-te a comer roupa suja,
confio em ti, não tens dentes.
Depois espero o teu vómito com a minha roupa de volta
purificada e cheirosa que penduro no estendal.
Ao som do vento a fustigar a fardagem
é colorido o diálogo entre os vários estendais.
De que falam entre si com a ajuda do vento
essas testemunhas coladas a cobrir o nosso corpo?
Falam daqueles que as vestem, como aquela ali,
está triste, fala baixo num sussurro
é uma camisa velha já puída do trabalho,
ainda ostenta o símbolo do patrão de quem a veste,
já não serve para nada, o corpo que a suportava
tinha a reforma à espera.
Aquela outra ali, um vestido bem comprido
com muitos folhos e rendas lamenta-se
a uma saia riscada por um bonito xadrês,
vai voltar para o armário só sai em dias de festa
vai envelhecer no escuro com as traças num festim.
Mas aquelas pequenas batas de cores brancas e azuis
são dos meninos da escola e elas riem e cantam
têm o futuro à espera nos corpos de umas crianças.
Enquanto espera que seque esta roupa no estendal
vai o poeta escrevendo uma sorte de poemas
que lavam a sua mente das marcas que vão deixando
os sinais de sujidade que encontramos neste mundo.
Gostei deveras deste texto que conta uma parcela do quotidiano do contador da história.
ResponderEliminarTexto com imensa criatividade.
Enquanto as roupas tagarelam esvoaçando no estendal, podem ver-se retalhos de vidas onde a alegria não mora e a tristeza está presente.
Tenha fé o poeta, que escreve a sorte de poemas, pois a água lava tudo...só não lava a sujidade de algumas mentalidades.
E é pena. O mundo seria mais claro e luminoso.
Parabéns por este bem engendrado lavar de roupa suja. :-)
Tomo em consideração o seu comentário e muito me agradou a avaliação positiva. Devo agradecer também a sua visita o que mostra a atenção que presta aos textos que publico.
EliminarDesejo-lhe bom fim de semana.
Realço realmente a criatividade poética nesta criação
ResponderEliminarMostra evolução na escrita e um poeta já consciente das suas qualidades
Gostei
Muito obrigado pelas suas palavras. Satisfaz-me a sua sempre aguardada visita.
EliminarBom fim de semana.
Julgo ser a primeira vez que visito este seu blogue. Comecei a ler este poema, passei para o seguinte e só parei no fundo da página. Principalmente porque gostei da diferença do que usualmente se lê nos blogues e porque a sua poesia é muito boa. E porque não tenho tempo para ler mais para trás, vou fazê-lo logo que possa.
ResponderEliminarE já o sigo, para não me perder no caminho para a sua lavandaria de palavras...
Bom fim de semana.
Abraço.
Recebo-o aqui neste espaço muito satisfeito com as suas elogiosas palavras. As visitas e os comentários de quem me lê são o estímulo para continuar.
EliminarFico à espera das suas próximas visitas e sinto-me distinguido por lhe ter agradado.
Até à próxima. Bom fim de semana.
Gostei muito deste seu poema, L. Outra coisa poderá ouvir o contemplador menos atento, mas o meu estendal fala invariavelmente do frio (físico, muito físico) que tenho, bem como da minha falta de espaço para acomodar tanta peça de roupa.
ResponderEliminarAs suas árvores, tal como nós, são todas iguais e todas diferentes, sim.
Abraço!
Gosto dos seus comentários, também poéticos.
EliminarObrigado pela visita.
Até logo.
Existe roupa que por muito que se lave e estenda, seca sempre suja. Talvez seja da "velhice" do/a arame/corda do estendal, ;)
ResponderEliminar.
Bom fim-de-semana
Cumprimentos
Comentário com humor. Muito Obrigado.
EliminarAté logo.
Bom dia. Realmente a roupa revela muito sobre a personalidade e segurança do seu dono.
ResponderEliminarConcordo. Obrigado pela sua visita.
EliminarTal como a arejada força do vento, assim é o poema.
ResponderEliminarO poema parece uma rede que apanha uma dúzia de borboletas de uma vez.
Cristalizar em palavras o momento, a imaginação, o sentimento. Também gostava de o fazer...
(hoje pareço uma crítica de poesia...)
:)
Gostei do comentário, sempre original e com graça. Agradeço e espero a próxima visita.
EliminarBoa Noite.
Refiro-me ao poema «As roupas falam de nós», claro.
EliminarCompreendi mas agradeço o esclarecimento.
EliminarCaro Poeta/Piintor
ResponderEliminareu sempre usei o estendal
os meus sonhos mais estranhos
sempre os coloquei a secar
quando o dia esta com mais sol
;)
Afinal todos temos uma qualquer relação espiritual com o estendal mas ainda ninguém tinha dito.
EliminarObrigado pela sua visita e pelo comentário.