Poemas herméticos


Não consigo escrever um poema hermético 

como fazem alguns verdadeiros poetas. 

Faço um esforço para escolher palavras

desencontradas mas que sobrevivam

ao lado umas das outras misteriosamente. 

Escrevo

              uma luz das montanhas e o ventre

             que vem de um fogo. 

             

Mas logo as palavras se guerreiam porque

se acham no direito de dar sentido à sucessão. 

Então intervenho e troco-as de lugar

             No meu ventre há um fogo

             e uma luz que vem das montanhas. 


Poeta de poemas herméticos, não!

Porque não resisto ao poder das palavras

e deixo que se alinhem e falem como querem. 


Zango-me ternamente com elas, 

vou-me embora do poema, 

volto quando me chamarem. 




 

26 comentários:

  1. Os caminhos da linguagem como os caminhos de uma poesia que deixe a sua marca nas nossas vidas e prepare o nosso futuro.
    Gostei

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. As palavras usadas por cada um conforme o seu desejo de dizer. Obrigado pelo comentário.
      Até amanhã.

      Eliminar

  2. Eu gosto de poemas herméticos... gosto da cadência, da dança que se pode fazer com as palavras, acrósticos, redondilhas, sonetos...
    Gosto da matemática na poesia... mas também gosto das palavras soltas! Soltas... mas que digam alguma coisa e que transmitam alguma mensagem.
    Não falta por aí quem escreva uma algaraviada de coisas sem nexo... e depois vêm "eruditos" dizer... «aaahhh.... muito bom»!!

    (^^)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Penso ter entendido que no seu comentário expressa o gosto por toda a poesia de uma maneira geral. Gostei da parte final do que disse, afinal o que sucede com todas as artes.
      Obrigado e boa noite.

      Eliminar
  3. Não consegues escrever um poema hermético, o que não propriamente uma limitação. Fazes esforços para escolher palavras desencontradas mas que sobrevivam e sobrevivem, irmanadas a outras, sem qualquer mistério. É um oportuno esforço

    Se há palavras que se guerreiam e se intervéns trocando-as de lugar, qual é o mal?
    E se as palavras descambam em algarviada falando como querem, zangas-te ternamente com elas.

    Posto isto, ires embora do poema?
    Nem penses!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Rogério, sempre interessantes os comentários já habituais. É um grande gosto ler as tuas mensagens. Gostei muito deste comentário.
      Desejos de Noite Descansada e obrigado pelo interesse demonstrado.

      Eliminar
  4. Gostei da boa disposição do Poeta ao deixar que as palavras se soltassem, livres, ou dando essa ideia, porque no fundo quem as comanda é ele. :)

    Gosto de toda a poesia que me diga algo, seja hermética ou aberta às interpretações de quem a ler.
    Mais do que me soarem bem ao ouvido têm de me tocar em algum ponto sensível.
    Algo que me chegue primeiro à alma, sem dar a prioridade aos sentidos...

    Gostei especialmente deste seu poema. Despretensioso, sem ambições de parecer certinho.

    E sabe? Ao trocar o lugar das palavras, ficou perfeito :)

    "No meu ventre há um fogo

    e uma luz que vem das montanhas.


    Pode o poeta abandonar as palavras, as palavras jamais o abandonarão.


    Hoje o desenho ilustra bem o sentido das suas palavras.

    Um abraço de Boa Noite. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Maravilhoso o seu comentário de hoje, é compensador e estimulante.
      Muito Obrigado.
      Uma noite descansada e um abraço também.

      Eliminar
  5. As palavras de Jacques Derrida:

    "Um texto só é texto se ele oculta ao primeiro olhar, ao primeiro encontro, a lei de sua exposição e a regra do seu jogo."

    combinam perfeitamente com o poema e a imagem.

    Não precisa de estar de acordo!!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Considero muito os seus comentários porque abrem a possibilidade de aprofundamento dos textos que aqui deixo. Isso acaba por valorizar estas modestas produções (a que tenho o cuidado de nunca chamar poesia). Tomo o seu comentário como uma expressão de agrado. Agradeço o interesse que demonstra e nestes diálogos, estar ou não de acordo é pouco importante, o interesse é falar das coisas. O campo é vasto, nunca neste espaço, por muitos passeios que se façam se visitarão todos os lugares.
      Um abraço.

      Eliminar
  6. Herméticos para uns, claros como água para outros...

    Gosto de bons poemas, herméticos ou não, tal como gosto de boas manchas pictóricas ainda que herméticas sejam. Ademais, nunca deixei de acreditar e sentir que os poemas são manchas pictóricas expressas de uma outra forma... e vice-versa.

    "Verdadeiros poetas" são os que voltam sempre que as palavras os chamarem :)

    Abraço, L.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito belo comentário o seu. Sinto-me compensado quando estes textos originam análises que acabam por aprofundar o que aqui deixo escrito.
      Muito Obrigado e um dia bom para si.

      Eliminar
  7. Ahí está la inspriración para que surgan las palabras.Esta viene de improviso y cuando ni siquiera se espera.

    Besos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Es cierto, la inspiración viene de una palabra suelta.
      Gracias por su visita habitual.
      Un abrazo

      Eliminar
  8. Caro Poeta/Pintor

    há poemas que podem ser herméticos para uns e claros como água para outros
    eu acho que os seus poemas a exemplo dos meus escondem sempre uma mensagem
    o Poeta escreve a sua mensagem, o leitor tem que a descodificar
    mas é isso a poesia
    o segredo que todos podem detetar ou então a interpretaçao que lhe podem dar.
    a sua poesia é linda, é madura é por vezes angustiada, mas é uma maneira muito talentosa de a escrever.
    Muita saúde e muita inspiração para continuarmos a ler a poesia que ainda lhe falta escrever.
    Beijinhos
    :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Li o seu comentário e fiquei sensibilizado com a sua apreciação dos meus textos. Tentarei corresponder ao interesse e atenção que me tem prestado.
      Desejos de Boa Noite e
      Um abraço

      Eliminar
  9. Constelações frias e quentes e as provas dos nove.
    :)
    O poema interrompido pela transparência, falava de vulcões.
    :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Acheia muito certa a sua dedução a respeito do poema interrompido.
      Obrigado.

      Eliminar
    2. Não tem nada que agradecer. Volte sempre.
      :)

      Eliminar
  10. Já acabou de ver o Jogo da bola, Senhor das Nuvens?

    Não o quero apressar, pois tenho todo o tempo do mundo, porém, gostaria que voltasse ao meu cantinho responder a uma perguntinha.

    Ficar-lhe-ei eternamente grata se deferir o meu pedido. :-)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não ligo a futebol, nem sabia que estava a decorrer um jogo desses. Verifico que já viu que respondi à pergunta. Missão cumprida.
      Obrigado

      Eliminar
    2. O jogo a que me refiro foi o do seu Clube...

      Eliminar
    3. ....que, por acaso, me impediu de ver a minha novela das seis e um quarto.

      Eliminar
  11. Hummm...começo a pensar que o tal chamamento, foi o Senhor das Nuvens a pedir que eu olhasse o céu.

    Foi?

    ResponderEliminar