A casa vazia


É um caminho longo

                    o que percorro

da porta da marquise

                    ao fim do quintal

tenho o passo miúdo 

                    nasci há pouco

aqui, ao domingo

                    há sempre sol

quando chego ao muro

                    lá ao fundo

vejo quase o mundo todo

                    a serra em frente

a voz da minha mãe ao longe

                    a cantar

no tronco da nespereira

                    gravo o meu nome

um sulco forte a canivete

                    caligrafia demorada. 


Vejo agora que os meus olhos 

                    cresceram

em repouso o meu nome

                    também 

a sombra é a mesma no lugar

                    que é o mesmo

a casa vazia, a árvore vazia, 

                    a paisagem vazia. 

Mãe! Ainda te ouço cantar.




20 comentários:

  1. Ficava melhor, possivelmente, como inicio de um conto neo realista, muito Manuel da Fonseca, Soeiro Pereira Gomes
    Discordo da forma não do conteúdo
    Esse gostei

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  2. " Vamos a correr à frente do passado mas por vezes gostamos de correr atrás dele.
    Brancas Nuvens Negras, dixit.

    Só acrescentaria que, há determinadas horas na nossa vida, em que o regresso aos sentimentos e lembranças do passado, se torna necessário, imperioso até, para que se encontre o equilíbrio emocional, no presente.

    Um abraço.

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    1. Sim, estou de acordo, o passado acaba por ser fonte de inspiração pelos bons e maus momentos.
      Obrigado
      Um abraço também.

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  3. Um jardim fechado como a alma (sem qualquer conotação religiosa) do Poeta?!
    Há uma inquietação, um gosto amargo na boca, a frustração do sentimento de algo perdido que o Poeta não encontra.
    Às vezes procuro o mesmo sem ter muita consciência do que quero.
    E há sempre a voz da nossa Mãe a cantar lá ao longe...

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    1. O texto inscrito na aguarela foi retirado de um tema de Wim Mertens.
      Gostei muito do seu comentário.

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  4. Diria que estás a falar da minha casa vazia
    Mas noto diferenças
    que fazem esbater as semelhanças
    A árvore é outra
    A voz é outra
    o resto é igual

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  5. Acho que sem querer, hoje sentimos a mesma saudade.
    Você da sua mãe.
    Eu do meu pai.
    Acabei de escrever e vim aqui...que coincidência.
    Bom domingo

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    1. Provavelmente temos esses picos de saudade com frequência, hoje coincidiram.
      Bom domingo, um abraço.

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  6. Gostei muito do poema e da aguarela.
    Bom domingo.

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    1. Agradeço a sua visita e o comentário. Espero que volte.
      Até à próxima.

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  7. Sé también, por desgracia, lo que se siente cuando la cas de tus padres se encuentra vacía, porque ellos no están.

    Feliz domingo.

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    1. La nostalgia viene de algún pequeño detalle.
      Buen domingo. Deseos de salud.

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  8. Gostei imenso do poema, apesar de me não identificar com alguma da tristeza que nele encontro. Eu, não necessariamente o autor ou os outros leitores.

    As árvores/nuvem deste seu jardim, menos pela cor do que pela forma robusta e pelas linhas ligeiramente menos alongadas, parecem trovejar.

    Abraço, L.

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    1. Fico contente por ter gostado. Acho sempre curioso o que vê na imagem.
      Muito Obrigado
      Um abraço.

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  9. Para além do vazio, a voz, ainda,
    das mães.
    E o colo perdido algures...

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  10. Uma aguarela bonita.
    uma homenagem de ternura e saudade â mãe.
    gostei, depois da sua partida a casa fica vazia.
    e nunca mais será a mesma.
    beijinhos
    :)

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