Inventário de palavras


Faço um inventário das palavras 

perdidas. 

Perdi-as porque nunca estive atento 

e acordo sempre outonado. 

Invento palavras que tenham a ver 

com a minha identidade 

até ao cansaço da língua. 

Nem todas as palavras são nossas 

então, apodero-me também 

das que estão distraídas e utilizo-as 

em pensamentos, 

em acusações, 

em transfusões de verdades. 

Perdi muitas em cartas que escrevi e 

deixei fugir algumas das que me acordaram. 

Faço um inventário das palavras perdidas 

guardo estas

          groselha 

          pedra 

          Geneviève

          Atlântico 

          Paris 

          muro 

          ponte 

          carta 

Estou pronto para ouvir as que não perdi 

dou tempo às outras 

para que liquidem as mensagens 

para que dedilhem sons

para que se matem pelo direito à poesia.

 

14 comentários:


  1. Ainda bem que agora tem "este caderno" para as guardar e não perder mais nenhuma palavra e nós, seus leitores, ajudaremos a que elas não fiquem esquecidas.

    Beijinhos encadernados
    (^^)

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  2. Assino por baixo o comentário da Clara.
    Abraço e saúde

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  3. „Groselha“ é uma palavra da minha infância no café Magistic com os meus pais.
    Longe da pátria, perco não só palavras como assassino constantemente a língua de Camões.
    Embora eu não tenha veia poética, um caderno de apontamentos para as palavras esquecidas, é uma alternativa sedutora.

    SEDUTORA é a sua POESIA, que ficará para sempre gravada na mente dos seus leitores.

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    1. Logo pela manhã ter a felicidade de receber um comentário tão elogioso é um bom início de dia. Um dia bom para si e até logo.

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  4. Olá!

    Achei muito interessante o seu poema.

    Saudações poéticas!

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  5. As palavras perdidas são as mais preciosas, porque um dia foram nossas e agora...
    Mas estas suas agora, ficam cativas.
    Muito original e belo.

    Um beijinho

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    1. Os seus comentários são sempre muito gentis e eu agradeço.
      Espero sempre as suas visitas.
      Um abraço.

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  6. Sabes Poeta/Pintor
    as palavras não se perdem por ai
    elas continuam
    nós é quepor vezes as esquecemos de propósito
    depois vamos quando nos fazem falta
    acariciamos
    com ternura e saudade, e é nessas alturas
    que o poema se solta e voa e cria asas

    beijinhos de admiração
    :)

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    1. É verdade, voltamos a encontrá-las.
      Muito Obrigado pelos seus comentários sempre tão amáveis.
      Um abraço.

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