Foto de Daniel Filipe Rodrigues



Talvez amantes


Aguentaram o massacre até ao fim 

os gritos 

os gestos 

as palavras pedra

crianças a chorar de noite

sobretudo de noite. 

Aguentaram o massacre até ao fim 

resilientes 

insistentes 

talvez amantes. 

Morreram 

um em resposta ao outro 

como sempre.




29 comentários:

  1. A persistência dos sentimentos humanos
    Gostei

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  2. O que de imediato me veio à ideia ao ler este texto,
    foi algo que li da estudiosa Inês Nascimento Rodrigues, sobre o massacre ocorrido em São Tomé,
    num Fevereiro já longínquo, mas não muito.
    Por certo, haveria crianças aos gritos e amantes morreram abraçados...

    Acho que não deveria ter vindo até aqui.

    Boa Noite.

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    1. Fez bem em vir mas, lamento, a sua interpretação de hoje não é essa que a impressionou. Leia de novo e veja o comentário do Miguel.
      Agradeço na mesma a sua vinda e o comentário.
      Boa Noite.

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  3. Antes de entrar na „persistência dos sentimentos humanos“ olhei com persistência e apaixonadamente para a extraordinária fotografia do Daniel Filipe Rodrigues.

    Na noite de trevas e destruição a persistência dos „talvez amantes“ é mais resistente do que a própria morte.
    Poético e profundo.

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    1. Ligações inexplicáveis. Transmitirei ao autor a referência à foto.

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  4. Lindíssimo poema! Unidos em todos os momentos. E cito-me: "Morreremos apenas quando o amor nos assustar mais do que a morte"...
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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    1. Com o seu comentário adicionou mais um verso. Muito obrigado.
      Um abraço

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  5. Voltei, reli o já anteriormente lido e, de novo, me quedo sem encontrar o caminho.

    Belo?- Parece-me ser adjectivo muito vago para definir palavras tão fortes.
    Intrigante? - Sim, sem dúvida!

    Eu não quero repetir-me e rever nas palavras de outro comentador a razão de ser das palavras do autor.
    Quero que seja o AUTOR a fazer-me entendê-lo...ou não.

    A persistência dos sentimentos? Claro que sim...enquanto os sentimentos perdurarem.

    Se vou convencida e satisfeita? Não, desta vez não! Lamento.
    Divagar acerca de palavras como: morte, gritos de crianças, massacres? Não posso, não sei!
    Nem encontro razão de ser em qualquer metáfora sobre...

    Um abraço e desejos de um Bom Dia!

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    1. Tomei muita atenção ao seu presente comentário, no entanto não me parece adequado explicar o que está escrito. Continuo a achar que o curto comentário do Miguel é uma interpretação próxima do que está dito. Quantos às palavras utilizadas é bom que criem reacção em quem lê, agradável ou não. Estes textos não se explicam tal como na pintura não figurativa.
      Agradeço o tempo e a atenção que me dedicou.
      Um abraço.

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    2. Quando fiz/faço, referência a uma "explicação ou entendimento" obviamente que não me refiro a que tudo esteja claro, tim-tim por tim-tim.
      Quero simplesmente dizer que, essa tal "explicação" a preciso encontrar eu, no mais fundo das minhas emoções, percebe, Luís?
      Cada poema tem de trazer agarrado a si, bocados da alma de quem o escreveu. Se forem meras palavras atiradas ao vento, quanto mais impactantes melhor, com o intuito de provocar consternação mental e emocional, em quem a ler, simplesmente para ser sincera e honesta, não posso dizer: "Muito belo", numa vulgarização da beleza sem, no entanto, as palavras lidas terem em mim esse efeito de BELO.
      Apenas dor e consternação.

      Não agradeça o tempo que dedico ao seu espaço a às suas apreciadas palavras.
      Desde o primeiro momento que aqui venho pelo verdadeiro prazer que sinto em ler as suas prosas poéticas. Quantas e quantas vezes, depois de o ler, acabo por me reconhecer em tudo o que li? Muitas vezes e já lhe o tenho feito aqui notar.
      Agora, não me coarte é a liberdade de me expressar livremente. Quem pode controlar aquilo que se sente?
      Certo é que poderia usar a máxima do autor do blogue, ou seja, não fazer das minhas palavras o eco do meu pensamento.
      Era isso que queria que eu fizesse?
      NÃO DIZER TUDO O QUE PENSO E PENSAR TUDO O QUE DIGO?
      Preciso que, ao menos, isso me diga! Por favor...

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    3. Está tudo bem e anima-me que expresse o que sente relativamente ao que escrevo. Mas, não posso satisfazer mais a sua necessidade de organizar o que sente relativamente ao texto, aliás, a explicação mata a magia, se ela lá estiver, claro. Também lhe quero dizer que o Belo não se encontra apenas em textos considerados belos, um texto que cause tristeza ou "consternação mental e emocional" como referiu, pode ser um texto belo, o conceito de belo é objecto de tratados. Não acho, sinceramente, que o que aqui publico mereça tanta análise sobre a concepção do que as palavras querem dizer. Mais uma vez considero uma distinção a atenção apurada que faz do que aqui tem a amabilidade de ler.
      Um abraço

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    4. Muito bem! A sua primeira frase já me basta como resposta.
      E, como la vida sigue igual, na expressão de nuestros hermanos, vou terminar dizendo que:
      "Tudo segue como dantes no quartel de Abrantes", até porque aqui, quem manda é o Napoleão Bonaparte cá do espaço. Eu, pela minha parte, bem vou tentando ser um pouco General Junot, mas qual quê?...Não passo de um simples soldado raso. 😊

      Até mais logo ou até amanhã.
      Um abraço também. 😊

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  6. Assim que li o seu poema, vi a descrição perfeita da vida de um casal ao fim de muitos anos de convivência, resiliência e insistência, Contudo seguros contra a corrente, como sugere a bela foto.

    Um abraço e boa semana !

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    1. Essa é uma leitura correcta. A vida tem destas coisas inexplicáveis.
      Obrigado.
      Um abraço.

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  7. Ah, meu Deus! Que pena tenho desta minha infeliz incapacidade de não enxergar o óbvio.
    E olhe, Luís, que o digo com a mais profunda sinceridade.
    Eis, aí em cima, o comentário que me abriu os olhos para essa longa e persistente existência a dois remando ambos no mesmo sentido.
    Vai ver, o mal nem está em mim, mas na minha experência de vida...
    Está a ver? Era isso que eu queria ter entendido e o Luís não me quis dizer.

    Agora já nem venho ver mais nada para não o aborrecer mais.

    Inté.

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    1. Não há problema, eu sou paciente. Mas eles não remam no mesmo sentido, remam um contra o outro.
      Tenho sempre a porta encostada é só empurrar.
      Obrigado.

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  8. Isso não é um sonho, é um pesadelo, lol
    É linda a foto

    Cumprimentos

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  9. Juntos hasta la muerte. Vivir uno sin el otro sería mucho peor que la misma muerte.

    Besos

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  10. O amor é como a corda que na foto, evita que o tronco se vá na água. Aguenta tudo.
    Morre-se quando ele morre. Ainda que se continue a respirar.
    Muito belo o poema e a imagem que o ilustra.
    Abraço, saúde e uma boa semana

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