O meu outro eu suicidou-se


Interrogo-me sobre o suicídio do meu outro eu

respondo-me de poeta para não poeta. 

Que há muito não me chamo 

que há muito não me escrevo 

que não sei se vivo ou morro. 

Pergunto-me ___ se ainda me lembro 

que somos filhos da guerra 

e que quando voltámos tínhamos 

aquela nossa casa na aldeia 

no largo com a igreja ao fundo. 

Por que me suicidei no meu outro eu? 

Tínhamos medo mas éramos felizes

nesse tempo ainda acreditávamos que nós próprios

éramos os nossos melhores apreciadores 

acreditávamos que deixaríamos o nosso corpo 

mas continuaríamos a viver 

nos lugares e nas memórias dos outros 

até nos assassinarmos um ao outro. 

Porque esta minha vida 

já estava a demorar uma eternidade

suicidei-me no meu outro eu. 

Conformo-me mas condeno-me

à pena de caligrafar a palavra

perdão 

um milhão de vezes até a minha morte.




27 comentários:

  1. A análise possível às várias facetas do que mostramos aos outros

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  2. Preferia que não houvesse por aqui, assassinatos nem suicídios.
    Até porque, pela minha parte, está perdoado.
    Há ainda muita vida para viver.

    Boa Noite.

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    1. Ah, esquecia os peixes.
      Tmambém eu sou um deles.

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    2. Cá continuaremos, viver é uma grande acontecimento, mas que não devemos repetir.
      Boa Noite, obrigado.

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  3. Li e reli.
    Deixo um abraço e votos de saúde.

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  4. Gostei de ler o poema, belo mas indigesto.

    Quanto à colagem... fiquei presa a ela, confesso. Nos tempos que correm, quem se não irmanará a um peixe num aquário?

    Abraço, L.

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    1. O que escrevemos por vezes é incómodo, mas não será essa também a função de quem quer dizer "coisas" aos outros? Sei que a Maria João partilha do mesmo princípio, é ver os seus escritos.
      Quanto aos peixes, coitados, é ir ao Oceanário (claro que isto é uma brincadeira)
      Obrigado e um Abraço.

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    2. Claro que partilho do mesmíssimo princípio, L.. O "indigesto" que aqui deixei não tinha uma conotação negativa. Muito pelo contrário ;)

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    3. Eu compreendi, tudo bem, obrigado pelo esclarecimento.
      Um abraço

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  5. Será que só os poetas assassinam o „outro eu“?!
    Claro que não!
    Nós outros também somos assassinos.
    A diferença é que os poetas cantam e compreendem essa morte.
    Enquanto que nós outros continuamos dentro da nossa própria estupidez.

    Um sermão aos peixes.

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    1. Pelo que vejo também compreende esse assassinato ou esse suicídio, depende dos momentos. Não compreender não é sinal de estupidez é antes o que acontece com muitas pessoas, não se analizam numa atitude honesta para consigo próprios, por várias razões.

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    2. Uma análise honesta connosco próprios é dolorosa — enterrar a cabeça na terra é muitíssimo mais fácil.
      Há dias em que queria ser um peixe num aquário — mudo ...

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    3. É nesses momentos que o "outro eu" pode escrever sobre o "outro".

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  6. Não sei se os poetas assassinam o seu outro "eu". Que o modificam sim, acredito. Mas tudo é discutível, não é mesmo?
    Gostei muito da tela. Linda como todas as outras aqui "oferecidas".

    Tenha um dia feliz

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  7. Caro Poeta
    Pode pedir Perdão,mas todos nós estamos perdoados.
    Por isso Deus veio ao mundo.
    O suícido entre o outro eu existe.
    E existe também a morte.
    Mas sabe meu amigo Poeta que também existe a ressureição entre os dois.
    E âs vezes as guerras entre os dois (eus) é apaziguadora, como também pode ser bastante dolorida.
    Gostei deste trabalho poético.
    Abraço de carinho e amizade!
    beijinhos (também)
    :)

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    1. Tem toda a razão na sua análise, o debate interior deve ser feito com lucidez. Pode ser difícil mas é necessário.
      Um abraço e um obrigado pela sua apreciação sensível.

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  8. Não sei, se isso, lhe interessa.
    Recebi hoje vários telefonemas com mil elogios às duas aguarelas.

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    1. Sim, claro que me interessa. Fico contente. Podem ver no INSTAGRAM
      luis.raimundo.rodrigues
      Não posso agradecer o seu cuidado.

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  9. Matamos al otro yo, cuando no somos consecuente con los actos y la manera de pensar.

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    1. Matamos nuestro "otro yo" varias veces durante nuestras vidas.
      Gracias, un abrazo.

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  10. O diálogo interior de quem se expõe integralmente.

    Condenar-se à pena de escrever até à morte, não será um acto de absolvição, digo eu.

    Um abraço!


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    1. Interessante o que cada leitor extrai do texto. Achei interessante o seu comentário.
      Um abraço também. Saúde.

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  11. "liberdade para os peixes dos aquários", liberdade para o poeta fazer com a sua vida o que quiser.
    Levamos a vida a errar e a consertar; a não nos perdoar; a morrer... por dentro.
    Beijo, boa semana.



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