Uma cidade
A vida nesta cidade não é bem vida
é estarmos mortos
nos intervalos de quando estamos vivos.
O que tem de belo esta cidade
é que não nascendo aqui o sol
aqui se vai demorando.
A vida nesta cidade não é bem vida
é não parar de dizer aos outros
para se esquecerem de nós.
O que tem de belo esta cidade
é a ausência de vozes
o desconhecimento do nosso nome.
A vida nesta cidade não é bem vida
é ficar por detrás do nevoeiro
sem saber para onde ir.
O que tem de belo esta cidade
é que podes ir perdendo o teu poema pela rua
que ninguém repara nesse lixo das palavras.
A cidade é a nossa casa mascarada de mundo mais pequeno
ResponderEliminarGostei
Bem visto, concordo, é uma ideia curiosa. Obrigado.
EliminarÉ realmente uma ideia curiosa, embora a minha ideia seja uma outra.
EliminarVenha essa ideia.
EliminarA cidade é uma sátira...
Eliminare eu não estou convidada.
Correcto.
EliminarNinguém precisa de convite para entrar.
Gosto da beleza e morbidez da sua poesia.
EliminarComo gosto das grandes cidades
onde nunca tantos se conheceram tão pouco
A aguarela não mostra os vermes da cidade, mostra sim, a beleza da cidade fantasma.
Tomo em conta a caracterização que faz do que escrevo, isso é útil para mim.
EliminarEssa cidade é todas as grandes cidades do mundo e o poema, como todos os poemas, vai-se perdendo entre o que muitos consideram lixo e, outros, luxo.
ResponderEliminarIsto é apenas o que eu senti... ou o que instintivamente me ocorreu assim que acabei de ler, L.
As suas árvores-nuvem metamorfosearam-se, hoje, em árvores-pena.
Na cidade que eu vejo da minha marquise, vão nascer olaias e árvores-de-fogo :) Vão mesmo!
Forte abraço
As grandes cidades são o desassossego mas, por outro lado, oferecem possibilidades de carácter cultural que não existem nas cidades de província. O ideal era poder viver em dois sítios diferentes.
EliminarUm abraço.
É isso mesmo, poeta!
EliminarA minha querida cidade invicta, embora não seja propriamente uma cidade da província, não me oferece culturalmente o que me oferece a cidade de Düsseldorf.
Eu amo o desassossego, o lixo e o luxo.
Bom, isso já é a outra escala, o Porto já oferece muito para ver e ouvir, Düsseldorf é outro mundo. Agora imagine o que é estar exilado aqui onde estou.
EliminarMas o poeta NÃO gosta do desassossego, embora a sua POESIA seja desassossego puro. Após a leitura de „GRITO“ não consegui dormir toda a noite.
EliminarBERLIM é sim um outro mundo. Apanhei uma pneumonia durante a Berlinale.
Já agora, Düsseldorf é uma das cidades mais limpas que eu conheço.
E quando vou às janelas, estou rodeada de árvores, cortadas como as árvores de Paris.
Já não gosto de muito desassossego mas gosto de realizações culturais, não de inaugurações, só vou às minhas porque não posso faltar.
EliminarJá agora a que GRITO se refere?
Árvores aparadas em cubo? Paris ainda é especial.
Aquela palavra era um grito
EliminarAcordei assustado nos meus sete anos,
uma rajada de metralhadora fez-me saltar da cama.
As árvores no meu jardim estão aparadas em cubo como as árvores que vi o ano passado em Paris.
Que saudades que tenho de inaugurações, às quais nunca faltava — até o vírus 🦠 acabar com a minha vida cultural
Ah, muito bem, aquele texto tirou-lhe o sono, não foi bom para si mas afinal o texto teve o efeito desejado.
EliminarO vírus vai ser vencido e as inaugurações vão voltar.
Numa cidade somos mais um, no meio de outros.
ResponderEliminarA aguarela é uma fuga, para um lugar onde podemos ser vida!
Um abraço
Bem achado o simbolismo da aguarela. Obrigado. Um abraço.
EliminarTodas as cidades nos dão a certeza do anonimato...
ResponderEliminarAbraço e bom resto de semana
E isso é bom, basta, sermos conhecidos no nosso bairro.
EliminarObrigado pela visita.
Um abraço
Há palavras que resistem
ResponderEliminarNós e as palavras resistindo.
Eliminarvi a tristeza entrelaçada
ResponderEliminarcom teias de aranha nas montras
os vidros embaciados
as portas fechadas
o silêncio dolente
vi a minha cidade – abandonada
era dia de sol
e cheirava a mofo e a chuva
as minhas mãos crispadas
no fundo dos meus bolsos vazios
e a solidão com feridas profundas
no esquecimento anunciado
o chão amargo da melancolia
prenhe de fragrâncias com história
e de cheiro a fado nas esquinas
a calçada à portuguesa impregnada de rostos
de olhar em quebranto cingido
já ninguém sabe de mim
nem dos meus sonhos tresmalhados por aí
nos barcos ancorados
e nos livros da cidade
já ninguém me conhece nas esplanadas da tristeza
vi a minha cidade – abandonada
© Piedade Araújo Sol
2011-12-01
Quero agradecer-lhe a gentileza do envio deste poema também sobre a cidade.
EliminarVamos ter esperança de que tudo o que refere no seu poema possa voltar a ter vida.
Muito Obrigado, gostei.
Um abraço
Ahora no hay vida en ninguna parte. las ciudades parecen desiertas.
ResponderEliminarBesos
Aquí también estamos confinados, tendremos que vencer al virus.
EliminarUn abrazo
As cidades estão assim. Mais mortas que vivas, porque somos nós que as vestimos de vida.
ResponderEliminarGosto da aguarela.
Abraço e saúde
A vida e o bulício voltarão. Obrigado por ter vindo.
EliminarUm abraço