Foto de Daniel Filipe Rodrigues 




Pai

Porque voltas tão tarde, ao ponto 

de só cruzares o teu dia com a minha noite? 


Porque tens esse olhar lá do alto

para que eu corra a esconder-me não sei onde?


Deixa-me ver os pirilampos

que guardaste dentro do teu lenço. 


Ajuda-me a escrever este poema, 

é sobre ti, para o teu aniversário. 


Não morras agora que ainda é muito cedo

e eu não tenho outro pai. 


Ajuda-me! Passaram tantos anos

já estou mais velho do que tu. 


Pai, 

diz-me como é abraçar um pai. 


Também tenho direito

ao gorgulho da minha angústia.




 

25 comentários:

  1. A fotografia é do Daniel Filipe Rodrigues — o poema também podia ser da sua autoria.
    Um apelo ao pai — lembra-me a carta que Franz Kafka escreveu ao seu pai.
    O apelo é exactamente o mesmo.

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    1. Situações comuns que em determinada altura da vida aparecem na nossa memória.

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  2. Achei uma ternura este texto, uma ternura dorida de memórias e sentimentos que o tempo não apagou.
    Só não consegui entender a última estrofe...

    Ah, é o Daniel está de parabéns, a foto ficou muito bem conseguida!

    Um abraço e boa noite

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    1. Errata:
      Onde se lê "é" deve ler-se "e".

      (tenho de rever urgentemente as definições do teclado deste telemóvel!)

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    2. Sim, a memória por vezes é um gorgulho que nos rói.

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  3. POR PROFUNDO RESPEITO
    FICO EM SILÊNCIO

    e compreendo!

    Abraço

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  4. Uma manifestação que eu tb faço quase todos os dias, pela dor da ausencia

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  5. Também eu me quedo em respeitoso silêncio, L.

    Abraço grande

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  6. A maravilhosa foto abriu-me um sorriso.
    Mas ao ler o seu poema, ele fechou-se. Curvo-me a esta dor.

    Um Abraço.

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  7. Não posso ajudá-lo, mas compreendo essa lacuna nos seus afectos de menino.
    Dor tão profunda, que ainda hoje perdura. Compreendo-o porque conheço essa dor.
    Venho por solidariedade, pelo respeito que me merece essa falha que o marcou.
    E venho, porque hoje seria o dia de aniversário do seu Pai.
    Fique bem e, sobretudo, fique em Paz.

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    1. O seu carinhoso e compreensivo comentário foi tocante. Fico reconhecido e deixo aqui um abraço. Obrigado.

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  8. Uma foto maravilhosa.
    Há momentos na vida, em que nenhuma frase no mundo pode expressar o que sentimos.
    É o que me acontece agora depois de ler o seu poema.
    Deixo um abraço

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    1. Agradeço a solidariedade, fico a perceber que o que ficou escrito na publicação de hoje não é estranho ao sentir de muitos de nós.
      Um abraço.

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  9. Infelizmente senti bastante esse poema. Num tempo em que o trabalho me tomava o tempo todo e não deixava muito para preencher com a família :(( !!!

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  10. Luis, entrei apenas para deixar um beijo e desejar-lhe um feliz mês de Março.
    Saio em silêncio respeitoso, porquê conheço o tamanho dessa dor.
    Até um dia destes, senhor poeta.

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    1. É sempre um gosto receber a sua esperada visita. Obrigado pelas palavras que aqui deixou.
      Um abraço

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  11. Comprendo tu sentimiento, porque yo también he pasado por este trance.

    Besos

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    1. Por lo que veo, es una situación común.
      Muchas gracias. Un abrazo amigo.

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  12. Pai

    Os barcos do silêncio

    percorro os barcos do silêncio.

    em Janeiro te perdi. em lugares de pedra te deixei. eu sei que não regressas mais.

    a vila ainda tem o cais que guarda estórias de água, de segredos espalhados no solarengo decorrer dos dias.

    as mulheres cujos rostos denunciavam mágoas escondidas já não usam xales de cores pretas.

    passou – já - tanto tempo. que é apenas uma parte que ficou guardado nas memórias de mim.

    relembro a força da dor. o tempo comprime-se e foi ontem que passaste a proteger-me incorpóreo.

    foi tão forte essa dor. ficou aprisionada e ainda hoje a sinto igual. e assim sempre será no dia um do mês de Janeiro de todos os anos que hão de vir.

    é certo que o teu corpo foi embora. mas o teu sorriso e a tua gargalhada ficaram a ecoar no mar. e em mim.

    as lágrimas insistem em cair neste tempo certo ou incerto de mim.

    a casa na praia já não existe e não faz parte da rua dos barcos o teu nome.

    só resta esta saudade que não sara – que não deixo - nos meus barcos do silêncio.


    © Piedade Araújo Sol
    2012-01-02

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    1. O mesmo sentimento e um belo poema que fica como uma homenagem.
      Fico reconhecido pelo envio deste seu poema.
      Um abraço

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