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Súbito momento 


Hoje acenderam-me a lareira. 


Tenho a manta sobre as pernas

folheio o meu diário. 

Nesse tempo

tudo parecia entendimento

mesmo do absurdo

o que escrevia

eram palavras sem medo

ilustradas com um céu azul. 


Depois

perdeu-se o céu 

as palavras começaram 

a fazer perguntas

o ventre ardeu. 

Hoje acenderam-me a lareira. 


De mão cheia

arranco essas folhas da memória 

e ponho a arder o meu passado.




14 comentários:

  1. A memória não se arranca. Preserva se para não ter de ser destruída
    Gostei

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  2. Fico sem palavras, L.

    Com a minha idade e na minha condição, sou muitíssimo mais passado do que probabilidade de futuro. O presente? Esse é tão fugaz que só depois de escrito, esculpido, desenhado ou fotografado poderemos começar a deixar de duvidar da sua existência ;)

    Muito belos, imagem e texto!

    Forte abraço

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    1. Gostei muito do seu comentário, há nele uma identificação com o texto e um esclarecimento que valoriza o que foi publicado.
      Obrigado
      Um abraço.

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  3. Para que o Passado não arda e desapareça, como se nunca tivesse existido.
    Para que o Presente, no Futuro, não siga o caminho daquilo que já foi Passado,
    deixe que a lareira arda com a finalidade única de lhe aquecer os joelhos frios.

    Os "Súbitos Momentos", que em cada vida surgem para desencantar e fazer esmorecer o mais forte,
    devem ser transformados em "Momentos Encantados"... :)

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    1. Fico tocado pela compreensão e solidariedade do seu comentário. Difícil é essa transformação dos "momentos".
      Agradeço reconhecido.

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  4. Há tanta tristeza na publicação de hoje que fiquei sem palavras.
    Em silêncio digo simplesmente que apreciei a beleza do poema e da fotografia, embora não compartilhe esses momentos — talvez por não ter lareira.

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  5. Há momentos em que até o céu conspira contra nós. Felizmente, são súbitos.

    Um abraço solidário.

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  6. O céu azul ficou parcialmente encoberto pelas nuvens escuras, tal com os momentos felizes da vida, ficam soterrados pelas más memórias.
    Porém vale mais ter más memórias que não lembrar coisa nenhuma. Só se está vivo enquanto há memórias.
    Abraço, saúde e bom domingo

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    1. Tem toda a razão, quando se perde a memória essa doença tem um nome.
      Saúde também para si e um abraço.

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  7. O poema de hoje denota uma certa amargura.
    Mas o passado é nosso, tem memórias boas e más.
    Não o devemos esquecer, guardemos entao o bom e esquecer o mau.
    E é isso!
    beijinhos
    :)

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