Foto em Dinheiro Rural.com.br
Moendo o café
Que faço eu aqui?
Os meus olhos não mais altos que o balcão
a cara no encosto ao calor da minha mãe,
contemplo a manga da bata cinzenta
que se move no labor do negócio doce,
o som que mói os grãos negros
saltando até chegar a sua vez,
o aroma que invade todo o espaço ___
___ todo o espaço da memória.
Caminho enquanto balanço nos dedos,
num cordel colorido, o embrulho do prazer.
Cheguei.
Que faço eu aqui?
Milhões de grãos negros depois
a recordar com este aroma
que trago do passado ___ todos os dias.
Que faço eu aqui,
ainda,
a ver-vos partir?
A consciência do ser e de todas as dúvidas com que evoluímos como seres
ResponderEliminarA consciência do tempo que passou.
EliminarFoi isso mesmo que li, L. ; a consciência do tempo que passou, aqui plasmada nos grãos de café... e longa é a história do café, amargo e doce como a vida.
ResponderEliminarForte abraço!
Certo. Uma maneira de assinalar o decorrer do tempo quando há memória de certos factos.
EliminarUm abraço.
Uma publicação diferente e igual — como sempre „a consciência do tempo que passou“ — esquecer à força de lembrar.
ResponderEliminarTomo o café preto e amargo na consciência que a minha vida é doce como o mel.
Comentários sempre com um toque de beleza.
EliminarBom dia!
ResponderEliminarHoje vou esquecer o texto e ligar-me apenas à fotografia e ao título.
Veja só como anda generalizada isto da nostalgia... fizeram-me lembrar uma velha canção que tanto bailei nas matinées e soirées dançantes na minha adolescência. Vou deixar o link directo a ver se também se lembra deste ritmo. Era assim:- MOLIENDO CAFÉ.
"Cuando la tarde languidece, renacen las sombras
Y en la quietud, los cafetales vuelven a sentir
Esa triste canción de amor de la vieja molienda
Que en el letargo de la noche parece gemir.
Una pena de amor y una tristeza
Lleva el sambo Luís en su amargura
Pasa la noche incansable moliendo café..."
(Não é Luís, é Manuel, mas faça de conta que é.)
Lembra-se?
Quanto à fotografia, devo dizer-lhe que gostei muito. Adoro fotos antigas a P&B, se forem do tempo da meninice distante, ainda mais gosto.
Só mais uma coisita. Esse menino, cresceu, fez-se homem, amou, foi pai, avô e, provavelmente envelheceu. Tudo nele pode ter mudado fisicamente, porém, esse seu nariz, visto de perfil, torna-o perfeitamente identificável. Se estiver enganada, olhe, é o mesmo...
Ainda mais uma coisa: Habituei-me a vir a este blogue e gosto de o fazer. Quantas vezes sem intenção de 'abrir a boca', mas quase sempre leio ou vejo algo que me incita a falar. Se acaso algo que eu diga o incomodar e/ou, a minha presença lhe desagradar, pode ser franco e dizê-lo abertamente aqui. Claro que continuarei a vir ler o que escreve, mas sempre de boca calada.
Obrigada.
Conheço a canção, quando escrevi o título lembrei-me disso.
EliminarA foto é de 30/9/56 em Peniche e o nariz é o mesmo, sim.
A sua presença neste blog é estimada pelo autor. Valorizo os seus comentários muito completos e são já um hábito que espero diariamente, são os comentários que tornam este espaço vivo e interessante.
Continue a marcar a sua presença, agradeço.
Há uma semana atrás acanhei-me em perguntar, mas irei fazê-lo agora.
EliminarAfinal, perguntar não ofende.
Em Setembro de 1956, que idade tinha o Senhor das Nuvens, então, Menino das Nuvens, que ainda haveriam de vir ensombrar o horizonte?... Oito, nove, dez?
Obrigada e desculpe.
Compreenderá que a confissão de certos pormenores da minha vida pessoal, que não acrescentam nada de valor ao que aqui apresento aos meus leitores, pode matar todo o envolvimento etéreo que se recomenda numa actividade artística destas. Sei que a seu tempo irá saber desde que pesquise.
EliminarApelo para a sua compreensão e peço-lhe que me desculpe.
Sem problema... Era mera curiosidade. Mas, sim, agora ainda mais curiosa, ficarei atenta.
EliminarAgradeço a resposta à mesma.
Escrever é esse exorcismo interno _ que faço agora? rs
ResponderEliminarGosto demais das suas aquarelas fico tentando adivinhar cada pincelada e os poemas sempre muito muito muito bons.
Sobre os grãos, maior que o prazer de vê-los convertido em líquido é o aroma que quase inebria.
A foto menino é aquela saudade boa.
Que a semana seja inspiradora e sobretudo com a saúde em alta.
Fui sensível ao seu comentário, é essa participação que torna vivo este lugar. Só posso agradecer-lhe a sua gentileza.
EliminarSaúde, um abraço.
Quantas vezes já não nos interrogamos sobre; O que faço eu aqui? Depois entra-se em recordação e pensamentos que, se calhar nem serão os melhores. Mas a vida é feita de projetos futuros e recordações do passado. É nessa conjugação que se vive e projeta a própria vida.
ResponderEliminarVotos de um domingo feliz.
Abraço
Recordamos muito o passado, desejamos muito no futuro e por vezes esquecemos o presente.
EliminarObrigado. Cumprimentos.
Afinal, o POETA sabe que O ÚNICO TEMPO REAL QUE EXISTE É O PRESENTE.
EliminarSobre isso não há dúvidas.
EliminarEs una pregunta, que más de uno nos hemos hecho.
ResponderEliminarBesos
Siempre será una duda la que nos acompañará. Un abrazo.
EliminarHoje começo pelo fim. Adorei a foto do menino que me fez lembrar o meu irmão com os seus seis, sete anos. Nós não morávamos junto ao mar de Peniche (gosto imenso de Peniche, e é sempre lá que inicio o ano. Este ano confinada não pude ir) mas junto ao rio e os barcos que nós víamos eram os navios bacalhoeiros da Seca, os botes de pobres homens, sem trabalho, ou com salário de miséria, que lançavam o cerco para a pesca, tentando amenizar com ela a fome que tinham à mesa e já nos anos 60 os barcos pneumáticos dos Fuzileiros que corriam o rio em exercícios que lhes serviriam de ensaio para os muitos rios nas colónias, especialmente na Guiné.
ResponderEliminarO poema, a memória dum tempo que passou e que ligou o carinho da sua mãe ao aroma do café.
Abraço, saúde e boa semana
Gostei muito do seu comentário, é muito bom saber que lhe despertei memórias saudosas de tempos e locais que estão no seu arquivo.
EliminarSaúde também para si e um abraço.
O olfacto é sentido que me desperta mais recordações de infância.
ResponderEliminarO calor da nossa mãe, é inesquecível.
Um olhar para o futuro, é o que vejo nesta sua foto.
Um abraço comovido
Obrigado pelo seu comentário. Gostei que ficasse sensibilizada.
EliminarUm abraço
Um poema a lembrar a criança que ainda há entre nós.
ResponderEliminarA memória de tanta coisa, que nos mantem vivos.
Tão belo o poema.
Gostei das fotos mas a segunda é muito emotiva.
Beijinhos
:)
Também é emotiva para mim.
EliminarUm abraço.