Foto do autor do texto



Oração breve


Ó Deus incompetente

o mundo não é apenas o teu mundo

o mundo é também 

a nespereira que vejo da minha janela. 


Ó Deus incompetente

eu tenho o poder de acabar contigo. 


Ó Deus incompetente

a mim só me serves

para descontinuar a minha morte. 


Ámen









18 comentários:

  1. O homem criou deus à sua imagem, con­for­me a sus semelhança, portanto tem de ser um deus incompetente.
    A divindade está na nespereira || natureza e na arte || na original aguarela.
    Amem

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  2. Sobre o texto não me irei pronunciar; respeito todas as crenças e a ausência delas também.
    Gostei muito da nespereira, bem podada, de modo a que se possam colher os seus frutos sem necessitar de uma escda.
    A aguarela, traz uma mensagem específica, penso eu. Essa espiral negra, será a crença do autor e evaporar-se? Será o seu poder, ainda mais forte que o Deus "incompetente"? Pois não sei...

    Um abraço, com votos de um bom dia.

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    1. O "meu poder" sobre o tal Deus advém do facto de eu achar que ele é uma criação nossa.
      A aguarela já existia, achei que se enquadrava com o texto, a sua identificação está correcta.
      Bom Dia, um abraço também.

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  3. Ao ler esta "Oração breve" lembrei o filósofo Nietzsche quando questiona: “Seria o homem um erro de deus ou deus um erro do homem?”. Não sei a resposta, mas sei que gostei imenso da nespereira e da aguarela.
    Uma excelente semana, com muita saúde.
    Um beijo.

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    1. Uma incógnita que o raciocínio filosófico explica. Nós podemos matar Deus.
      Obrigado pelo tempo que dedicou à publicação de hoje.
      Saúde, um abraço.

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  4. Ò olhos incompetentes!

    Perdoe-me, L., mas não posso deixar de protestar; quando abri o link do seu blog, fiquei uns bons momentos extasiada a admirar aquilo que julguei ser uma réplica da muito saudosa árvore da borracha - Ficus elastica - que durante anos me fez companhia, bela e frondosa, ainda que plantada num contentor e dentro de casa.

    Quando, ao ler o seu poema, percebi que é uma nespereira, não é a nenhum deus que acuso e sim à minha desgastada fisiologia ocular.

    Reli agora a sua ORAÇÃO BREVE e, finalmente, vi, na sua aguarela, uma hipotética representação desse deus a que(m) se dirige.

    Parece-me ingénua, a pergunta de Nietzsche... os deuses foram absolutamente necessários ao homem primitivo e, pelo visto, continuam a ser uma necessidade para a maioria dos seres humanos.

    Reconheço que não é nada fácil conviver pacificamente com as dúvidas e as incertezas da vida. Uma única resposta que nos transcenda, pode ser muito securizante, ainda que completamente inconsistente.

    Forte abraço, L.

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    1. Os seus olhos podem estar desgastados mas, acho que a sua visão da árvore da imagem também apelou ao seu imaginário.
      A aguarela tem, de facto, esse elemento central que se casa com o fulcro do texto.
      A dúvida, neste caso, é também uma construção do homem.
      Obrigado pelo debate, é disto que eu gosto aqui neste espaço.
      Um abraço

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  5. Esta manhã, o Friedrich segredou-me ao ouvido — depois de me dar os parabéns — para escrever no blogue do meu amigo:

    Gott ist tot || Deus está morto

    A aguarela perpetua essa morte.

    Somos uma geração sem deus.


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  6. .Adoro nêsperas. Lendo o poema fiquei em reflexão..
    Cumprimentos
    .

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  7. Gostei da nespereira (havia muitas na minha casa)
    Gostei da aguarela.
    A oração, é uma oração amarga, mas nem por isso deixa de o ser.

    :(

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  8. Que nespereira linda de galhos frondosos!
    A aguarela parece-me um tornado endiabrado.
    Li a oração... mas não rezei.
    Beijo.

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