A minha vida é diferente
Escrevo estas notas
sobre um tampo de mármore
num lugar antigo
a tasca do Lopes
como o próprio Lopes diz.
A minha vida é diferente.
A mesa onde estou
tem círculos de vinho aqui mesmo
ao pé da minha mão
ficou um prato vazio de pão
que uso como cinzeiro,
aqui todos fumam, todos bebem.
A minha vida é diferente.
Dos que aqui vejo
alguns não têm casa outros
têm casa mas não têm pessoas
eu só tenho estas pessoas
é com estes que coexisto é com estes
que o pensamento me surge de repente.
A minha vida é diferente.
Fico aqui até à última
tenho dificuldade em enfrentar
o medo
o escuro
o silêncio.
Escrevo aqui até o Lopes limpar
os resíduos do dia nas mesas
as bocas que aqui ficaram
ele quer regressar ao seu silêncio.
A minha vida é diferente
Quando chego à minha penumbra
mato o silêncio com Salve Regina
o que me aumenta a tristura
a volúpia da decadência.
Então desfilo nu
pelos quatro cantos da casa
como se fosse o mundo pequeno
e esperasse encontrar
alguém.
A minha vida é diferente.
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Julgamos sempre
ResponderEliminarque somos/temos
diferente
a vida
mas tudo o que afirma
é banal
tu, a ti, "salve rainha"
eu, a mim, tenho a bebida
De sorte
entre a sala e o quarto
não há brigada de trânsito
Este comentário que agradeço já saiu entre a sala e o quarto, isso é que realmente não é banal.
EliminarA nossa vida nunca é igual ao que idealizamos
ResponderEliminarMas se calhar ainda bem
Cada um com a sua experiência.
EliminarA vida pode ser diferente, banal e triste... .Apesar da dor que dilacera o coração, do medo que paralisa o corpo, gosto de pensar que podemos encontrar luz, mesmo que seja muito ténue...
ResponderEliminarGostei muito.
Beijos e abraços
Marta
Sempre a esperança a alimentar a nossa caminhada.
EliminarMuito Obrigado por ter vindo.
Um abraço.
Há quem diga que na Vida é preciso saber dar um passo atrás para se poder dar dois em frente. (refiro-me à legenda da imagem)
ResponderEliminarNunca tive esse jogo de cintura, no entanto, muitas são as vezes em que recuo e avanço, caio e levanto-me...mas não desisto!
Não afogo as minhas mágoas em tascas, mas se é lá que existe o lenitivo para as dores do autor, força!
E, nenhuma vida é igual, porque todos somos diferentes. Ainda bem. É na diferença que nos completamos uns aos outros.
Adorei sentir a paz de espírito que me trouxe a "Salvé Rainha".
Fez-me bem ouvir. Obrigada.
Não pude evitar um sorriso com o sempre presente inesperado final.
[Ainda um dia vou experimetar andar nua pela casa, só para ver se o meu mundo se expande.]
Um abraço.
Fique bem.
Obrigado pelo comentário. Faz-nos bem à alma ouvir um momento musical destes, achei que ficaria bem como banda sonora da descrição da vida que está no texto. É na penumbra que o personagem se desnuda no desespero da procura do que lhe falta.
EliminarBom Dia, um abraço.
Para si, com um abraço, L.
ResponderEliminar***
Há quanto tempo deixei
de andar nua pela casa...
Minha vida? Um golpe de asa
na sorte à qual não escapei
*
A sede que hoje me abrasa
conduz-me ao qu`inda não sei,
por isso de mim extravaza
por poros que não vedei...
*
Desta luz que me apaixona,
não sou senhora nem dona,
já que me ofusca e me cega
*
Talvez mais do que a penumbra;
a sombra só me deslumbra
quando alguns versos me entrega.
*
Maria João
Agradeço esta dádiva de um poema tão bonito com momentos tão poeticamente expressivos, afinal, o resultado da sublimação das nossas insuficiências e projectos não realizados ou por acabar, é assim que encontramos a razão.
EliminarUm abraço reconhecido.
:) FOI COM MUITO GOSTO, L., NÃO TEM DE AGRADECER.
EliminarTodos necesaitamos compañía, aunque hay momentos que necesitamos estar solo, no se puede permanecer en soledad las 24 horas del día.
ResponderEliminarBesos
Difícil es la vida para quienes están solos todo el tiempo. Un abrazo.
EliminarObrigada pela paz que me proporcionou este vídeo.
ResponderEliminarRecuar e avançar de novo, sempre!
Um abraço!
Eu é que agradeço e fico contente por ter gostado.
EliminarUm abraço.