Quase tudo, quase


Quase tudo eu posso digerir. 

     Bocas abertas em que cada dente

     é uma palavra violenta, 

     mortes previsíveis que serão 

     para amanhã ou depois, 

     o esquecimento de nós 

     como se o que fomos e o que fizemos

     fosse uma invenção nossa. 

Quase tudo eu posso digerir. 

     A penúria, o medo, o remorso. 

 

Difícil é ficar sozinho

com a escuridão encostada à pele

a tentar adormecer.




27 comentários:

  1. Praticamente tudo se pode digerir, menos a solidão violenta

    ResponderEliminar
  2. Quase tudo, muitas vezes, torna-se demais.

    Gostei muito das palavras. Levaram-me a reflectir sobre as coisas que já passaram por mim e mais me custaram, e ainda custam, digerir.
    O pior de tudo, para mim, é o remorso. As coisas que eu poderia ter feito de maneira diferente e não fiz.
    Na hora de dormir, nunca me sinto só. Acompanha-me o sono. Se acaso o deixo fugir, levanto-me e vou à sua procura...

    Na imagem, vejo uma casa no meio da escuridão. O azul? Talvez resquícios de um passado bem melhor do que o presente, mas ao certo não sei. Só sei que gostei!

    Um abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Desta vez a minha publicação parece ter tocado o seu interesse reflexivo que, como disse há uns dias, há muito não acontecia. Julgo que foi esta a ideia que deixou. Faço os possíveis por diversificar as publicações para que não se tornem monótonas e previsíveis.
      Muito Obrigado pela atenção que dedica ao que aqui deixo.
      Um abraço também.

      Eliminar
  3. PARA PODER APRECIAR A FUNDO O POEMA, TIVE DE CALÇAR OS SAPATOS DE OUTREM. NÃO SEI SE OS SEUS, SE OS DE OUTRO ALGUÉM, L.

    TODAS- E FRISO, TODAS! - AS ESCOLHAS QUE PUDE FAZER FORAM NO SENTIDO DE TENTAR SOBREVIVER PREJUDICANDO O MENOS POSSÍVEL OS OUTROS, EM CONSCIÊNCIA. PREJUDIQUEI-ME FREQUENTEMENTE, MAS SEGUI SEMPRE A MINHA CONSCIÊNCIA, POR ISSO NUNCA SINTO REMORSOS E A ÚNICA LONGÍNQUA E ABSURDAMENTE DOLOROSA SOLIDÃO QUE RECORDO, VIVI-A ACOMPANHADÍSSIMA.

    VISTO, PORTANTO, A PELE/SAPATOS DAQUILO QUE VOU CONHECENDO DO MEU PRÓXIMO E, AGORA SIM, ACREDITO QUE POSSA SER ATROZ "FICAR SOZINHO/COM A ESCURIDÃO ENCOSTADA À PELE/A TENTAR ADORMECER".

    ESSE BELÍSSIMO AZUL (VEJO-LHE FIBRAS, TALVEZ POR SOBREPOSIÇÃO DE CAMADAS DE TINTA, OU PINTURA SOBRE COLAGEM) É QUASE, QUASE O AZUL QUE ADOPTEI PARA A PAREDE NORTE DA MINHA SALA/ESCRITÓRIO/ARMAZÉM DE VELHARIAS :)

    FORTE ABRAÇO!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Quanto à pintura a textura que se vê é resultado de Acrílico sobre papel enrugado e colado. Sobre o texto, agradeço o seu comentário, sempre um auxiliar a uma interpretação que enriquece o que está escrito. Muito Obrigado.
      Saude, um abraço.

      Eliminar
  4. Nunca ninguém está sozinho. Existe sempre algo ou alguém a acompanhar o nosso pensamento.
    Poema muito bonito

    Bom fim de semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cada vez vejo mais gente à minha volta, sozinhos ou sozinhos a dois e dois.
      Muito Obrigado
      Bom fim de semana.

      Eliminar
  5. Com um sol ardente encostado à pele, digo simplesmente que a pintura é linda de morrer — o azul de aço empastado sobre o preto é fenomenal.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. AQUI 🇩🇪 30°C°

      Mais ardente do que o sol é o nosso desejo de derrotar a 🇩🇪

      Abraço solidário 🇵🇹

      Eliminar
  6. Réplica de quem tenta aprender a ficar só

    Quase tudo eu posso digerir.
    Bocas abertas em que cada dente
    do da frente ao siso
    é um largo sorriso
    para amanhã ou depois,
    na saudade de nós
    como se o que fomos e o que fizemos
    fosse uma invenção só nossa.
    Quase tudo eu posso digerir.
    A penúria, o medo, o remorso.


    Já não é tão difícil ficar sozinho
    com a escuridão a afastar-se da pele
    e a conseguir adormecer como um menino

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pelo que vejo, tudo é positivo, além disso dormes bem. Estás no bom caminho.
      Um abraço.

      Eliminar
  7. bnn, bem impactantes as palavras deste poema, identifico-me com boa parte delas... a tela foi muito boa escolha, parabéns por tudo.
    beijinhos e obrigada pela visita, vou continuando 'o passeio' :)

    ResponderEliminar
  8. Inquietação e o que vejo/sinto na tela.
    Só não digiro a injustiça , a solidão, não sei.

    Um abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A imagem talvez ilustre o texto. Muito Obrigado pelo seu comentário.
      Um abraço

      Eliminar
  9. Neste momento também eu tenho a escuridão encostada à pele — junto a seis alemães a espumar de alegria — a tentar acalmar.

    ResponderEliminar
  10. Hay mucha injusticis en el mundo y hay que luchar contra ella.

    Besos

    ResponderEliminar
  11. Uma casa brilhando na escuridão da noite, a esperança que o artista deseja mas não quer reconhecer. Ou a entrada de uma gruta junto ao mar? Ou a porta dos sonhos do poeta, cercada pelo desanimo da solidão de que se queixa no texto?
    Abraço, saúde e bom fim de semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Gostei muito de todas as hipóteses, a criatividade também está desse lado.
      Bom domingo
      Um abraço

      Eliminar
  12. MENTIRA, eu não consigo digerir.
    Tudo o resto, vou engolindo, ou escondendo debaixo de «resmas» de papel enrugado.
    Gostei da casinha... sem chão!
    Beijo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também acho que a mentira é uma traição inultrapassável.
      Um abraço.

      Eliminar
  13. Concordo!
    A solidão imposta é um veneno que corroi a mente e o corpo.
    Gostei do suporte da imagem em completa sintonia com o poema.

    deixo um abraço

    :)

    ResponderEliminar