A Arte da Fuga


É aflitivo o apelo do homem que ama

é urgente o resultado do grito

é preciso que se saiba que o século 

em que nascemos ainda não acabou

apenas acabará connosco 

nos nossos sons, 

nas nossas imagens, 

nas nossas obras

o nosso último dia será o último dia do século 

e de todos os séculos antes de nós. 

É aflitivo o apelo do homem que ama

que sabe que a sua morte está decidida

e nessa aflição o homem restaura a sua casa 

a sua frágil casa na montanha onde

basta uma angústia para a derrocada. 

O homem aflito que ama abre a manhã 

sem palavras

sem afectos

sem apegos

sem querenças

o homem aflito que ama abre a manhã 

com a Arte da Fuga

e uma boca a arder cheia de gente

a mesma que o acompanha até ao fim do século 

numa fuga sem fim



 

9 comentários:

  1. O apelo do homem que ama é para que a vida seja eterna

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  2. Com a Arte da Fuga — Die Kunst der Fuge voltamos a Johann Sebastian BACH, mas por favor, sem violão.

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    1. Sim, também reparei. O violão foi um elemento referido nessa circunstância com origens muito circunscritas a uma realidade mais folclórica e fora do rigor que se quer em Bach.

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  3. O que vejo na aguarela e antevejo nas palavras, não tem nada de lirismo.
    Cá para mim, o aflitivo apelo do homem que ama, e este amor é mais extenso do que o simples amor banal, pois engloba toda a Natureza,
    é a preocupação com esta nova "Arte de Fuga" para além na Terra....rumo ao Espaço desconhecido.

    Mas isto sou eu que amo o nosso Folclore, o Zé Cabra, o Quim Barreiros e...vejo na aguarela um foguetão. 🧐

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  4. Respostas
    1. É uma interpretação pessoal que para si transparece do texto publicado, essa é uma das riquezas da poesia não figurativa (usando um termo aplicado à pintura mas que ilustra a minha ideia) em que cada um pode recriar o que leu.
      Quanto aos "artistas" de variedades que referiu, levo à conta de um gracejo para enaltecer, por contraponto, como é sublime a música de Bach.
      Muito Obrigado

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    2. Vá lá...nem tudo está perdido.
      Às vezes, entende o que digo.
      Obrigada.

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    3. Às vezes faço de conta que não entendo.
      Obrigado.

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