A imprevisível loucura


A inesperada razão de um regresso

sem nada de original a empurrar a vontade. 

A coincidente chegada da chuva 

fustigando a minha casa num ruído contínuo, 

os lábios do tempo a murmurarem 

os números dos dias e a sua finitude urgente, 

nas paredes as aguarelas de quando 

tudo era erguido com entusiasmo 

em que loucura era vibração, 

música, 

sentimento. 


O regresso às páginas marcadas 

dos vários livros interrompidos 

fechados pela mão branca da doença 

e o regresso sem nada de original 

à loucura obscura deste tempo alvoroçado 

que não previ. 

Terei tempo para recolher os gestos 

das paredes vencidas pela demora

que a matéria leva na sua transformação. 

 

Sento-me à porta da minha casa 

e sorrio a ver partir as andorinhas.




 Foto de Depositphotos



 

18 comentários:

  1. De loucura que não é.
    Entusiasmo-me com a aguarela tão alegre e amarela.
    As andorinhas partem e eu sorrio ao lado do poeta.

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  2. Nova, e excelente, ligação entre palavras e obra de pintura

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  3. Eu não gosto de ver partir as andorinhas, nem em sentido real nem em sentido metafórico.
    Aliás, quando entrar Setembro, começa o meu tempo de desolação.

    Em contrapartida a aguarela faz-me lembrar que os dias só se vivem um de cada vez... e que ainda é verão e que Agosto se despede com dias quentes de sol, como os tons da aguarela.

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    1. O sol não está em todos os lados e as andorinhas têm de partir.

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  4. Bendita seja a loucura que fez nascer este poema e aquela bela aguarela.
    Tal como a Clara, também não gosto de ver partir as andorinhas.
    Abraço e saúde

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    1. Agradeço o seu comentário ao nascer do dia.
      Elas partem mas voltam.
      Saúde, um abraço.

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  5. Haja sempre um motivo que nos faça sorrir...

    Bom dia :)

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  6. Sabe o que eu acho mais desolador nas suas palavras?...
    Não é a partida das andorinhas.
    Não é a chuva quando lhe fustiga a casa ruidosamente.
    Não são essas recordações doentias que o assaltam a toda a hora.

    As andorinhas voltarão na Primavera, a chuva irá cessar quando o sol raiar e essa sua obsessão pelo que não tem remédio, creio que também se irá desvanecer.
    O que eu achei desolador e preocupante, é ter havido uma inesperada razão para regressar e não encontrar, nessa razão, nada de novo que lhe empurre essa vontade de ir...

    ...Valeu a bela Aguarela!! 🌞

    Fique bem.
    PS- Gostei muito de ver Las negras golondrinas, volando...volando hasta acá! 😅

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    1. Não há regressos bem sucedidos. A entrada no imponderável da loucura, quando do regresso, pode ser consciente e fértil mas também pode ser a ausência de razão e a entrada na loucura negativa e insensata.
      A cada um a sua experiência de cada um o seu testemunho.
      Fique bem, também.

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    2. Não vale a pena ficar aborrecido.
      Não pretendi expressar a sua experiência, muito menos testemunhá-la.
      Talvez eu tenha pouco jeito com as palavras...

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    3. Não fiquei nada aborrecido, apenas expliquei melhor a minha ideia.
      Sou paciente.

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  7. La lluvia golpea los cristales, anunciando un cambio de tiempo. Las golondrinas se apresuran a regresar a una tierra más cálida y se despide hasta el próximo año. Nosotros permanecemos inmóviles, viendo como cae la lluvia por detrás de los cristales y las pocas gentes que pasan po la calle, refugiados bajo la protección del paraguas.

    Besos



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    1. Me identifiqué con tu descripción del día lluvioso. Las golondrinas ya se han ido, al menos por aquí donde vivo, ya no están avisadas. Un abrazo.

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  8. "nas paredes as aguarelas"
    Essas
    que é feito delas?

    Vá levanta-te
    nada mais triste que ver um homem sentado num degrau
    mesmo se olhando andorinhas em pleno verão

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    1. Já não estou lá sentado, agora estou a preparar a publicação de hoje.

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