Foto de Daniel Filipe Rodrigues



Até não haver memória 


Morro nestas águas e ressuscito

assim me mato, assim me salvo 

e por muito que esbraceje

nada me salva e tudo me salva

se não esbracejar e morrer

de mim nascerá o outro, a salvo 

com o peito cheio de ar 

para mergulhar de novo 

para morrer de novo 

e de novo se salvar 

numa multiplicação infinda e absurda 

de vidas sobrepostas 

a que dou os nomes de

paisagem

desterro 

mariposa

ilha 

pânico

até não haver mais memória 

de como se nasce

de como se morre

de como se passeia de mão dada.




 Foto de Daniel Filipe Rodrigues 



14 comentários:

  1. Há paz nos meus olhos, quando contemplo o reflexo das árvores nas águas, possivelmente de um rio.
    Extraordinária fotografia lembra a beleza das pinturas de Monet.

    A análise do poema fica para amanhã.
    Boa noite 🌙

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    1. A análise do texto fica para amanhã, como num filme de "suspense".

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  2. A memória será a penúltima ideia a desaparecer do universo
    Antes do tempo

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  3. Bom dia, Luís!

    Hoje, deixo um louvor muito especial à primeira fotografia.
    Mas... onde houver água pode haver agitação e torvar a clara imagem desses velhos troncos e ramos sem ramagens.
    A última foto, foi onde os meus olhos descansaram...
    O texto, pois é um bonito texto poético, em que o autor premeia, no final do mesmo, a foto em que os ramos das árvores se enlaçam, criando um lugar idílico para um passeio de mãos dadas. Um postal lindo a ser guardado na memória...enquanto houver memória...

    Um abraço.

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    1. Também acho as fotografias muito inspiradoras, nostálgicas até. Enquanto houver memória, a nossa memória, poderemos reviver o passado com os momentos que hoje são saudade, um exercício arriscado pois nos lança numa tristeza desejada.
      Um abraço.

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    2. Luís, peço-lhe desculpa, antecipada, pois já sei que vai ficar amuado ou incomodado. Paciência!
      Pergunto-lhe: porque razão o Luís não responde às saudações de quem o visita, na sua casa, e nunca trata os seus visitantes pelo seu nome? Seja o nome verdadeiro ou pseudónimo, é um nome...
      Hoje, por exemplo, eu gostaria muito de ter chegado aqui e ter lido, a encabeçar a sua resposta, esta simples saudação de boas-vindas: "Bom dia, Janita."

      Porque responde sempre de forma distanciada e distanciando quem aqui vem de braços abertos?

      Pronto, disse e fica dito!

      Obrigada.

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    3. Faço por ser grato para quem me deixa comentários, julgo até que a delicadeza é uma obrigação de cada um de nós, faço por isso. No entanto, é difícil para mim corresponder a todas as expectativas de quem tem a amabilidade de falar comigo. Neste caso concreto, que cita, é um pormenor, tenho o meu estilo que, decerto, será diferente do seu e o seu diferente do meu, como já constatámos ao longo deste tempo de prática "globeira".
      Vou então proceder conforme deseja
      Bom Dia Janita, como está?
      E, tome nota, não fico nada incomodado, agradeço até a oportunidade que me deu de me explicar.
      E pronto, espero ter correspondido à sua expectativa.
      Um abraço de consideração e apreço pela sua fiel presença.

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    4. Agora, quem ficou sem jeito fui eu. Há décadas que não sentia as faces ficarem ruborizadas, agora estou vermelha que nem um tomate, e o pior, é que não encontro explicação para este rubor.
      Bem, Luís, a sua resposta excedeu as minhas expectativas...Espero que a nossa amizade virtual não tenha ficado beliscada.
      Obrigada.
      Outro abraço.

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    5. Tudo maravilhoso como dantes. O rubor é bom sinal, o sangue a circular neste nosso espaço de materialidade tão complexo. Estamos vivos.
      Obrigado
      Um abraço.

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  4. O poeta vacila entre os tons castanhos da primeira fotografia e os tons verdes da outra — entre a morte e a salvação.

    Mãos que nos seguram
    Mãos que nos protegem
    Mãos que nos conduzem
    Mãos que nos largam

    De mão dada connosco, com os outros, com o mundo 🌎

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    1. E eis um interessante comentário que confere ao texto publicado uma dimensão que o completa.
      Um abraço.

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  5. Morir a la vida, para luego de nuevo renacer.

    Besos

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