Foto do autor do texto



A tua compreensível insanidade


Compreendo a firmeza

da tua insanidade, 

compreendo que seja difícil 

suportar a realidade

para ti as coisas são outras coisas

e não tens dúvidas sobre isso. 

Compreendo que a língua 

em que falas agora

seja a tua própria língua 

que eu não compreendo. 

Em tudo o que dizes

há o queixume da injustiça 

e o terror do mundo inteiro

que te persegue. 

Compreendo que por muito

que chamemos pelo teu nome

jamais acordarás 

da tua firme insanidade

que compreendo. 

 

Cuida que não se fechem

as tuas pálpebras, 

terás direito a uma rosa eterna

só para ti.




 

23 comentários:

  1. O poeta fala de falta de bom funcionamento da mente — algo que ultrapassou a fronteira do bom senso.
    Nos dias de hoje nota-se de forma crescente a presença de comportamentos característicos de insanidade nas redes sociais.
    O que eu quero dizer é que há momentos de insanidade mental de pessoas que consideramos normais.
    Tanto o poema como a fotografia não se digerem fácilmente.

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    1. Estou de acordo. Algumas dessas pessoas merecem a nossa compreensão. Se a publicação de hoje originar um momento de reflexão é um objectivo conseguido.

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    2. Confesso que a minha compreensão para essas pessoas é limitada.
      Ofender virou moda e a moda tornou-se perfeitamente normal e traz na bagagem uma grande quantidade de imoralidade.
      Eu falo dos princípios de loucura que o Luís compreende e que eu recuso a aceitar.

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    3. A loucura agressiva não, mas nem todos os insanos são agressivos. O texto que publiquei é dedicado à minha última irmã que vive num outro mundo paralelo ao nosso, daí a minha compreensão.

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    4. Compreendi que se tratava de alguém como a sua irmã.
      Desculpe eu comentar uma outra insanidade, mas o poema e a imagem eram demasiadamente dramáticos e eu tentei dar a volta.
      Compreensão e carinho para todas as pessoas com deficiência mental está fora de questão.

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    5. Também compreendi o seu comentário. É positivo haver possibilidade de diálogo.

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  2. Em tudo o que escreves
    há o queixume da injustiça
    e o terror do mundo inteiro
    que nos persegue.

    Insisto em manter
    os olhos abertos
    quando chegar um cravo vermelho
    quero vê-lo

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    1. Cravos vermelhos qualquer que seja a estação do ano, também quero.

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  3. Olá, Luís.

    Tal como o desfoque da foto não me deixa distinguir a realidade do que foi fotografado, a insanidade de alguém, não nos deixa espaço a um diálogo coerente com o interlocutor. Creio que foi essa a intenção do autor ao optar pela falta de nitidez da imagem.

    Há muitas vidas a viver essa tragédia. Conheço quem se recusa a internar a companheira de uma vida e faz dos seus dias, dias de uma tristeza imensa. Muito triste e doloroso, ver como a mente de alguém que ajudou tanta gente, se vai lentamente perdendo de si.
    A última vez que a vi, ainda me reconheceu.

    Nesta minha insistente e persistente forma de tentar encontrar uma razão para tudo o que leio, talvez esteja muito longe do pensamento que levou o Luís a escrever o texto, mas há sempre uma possibilidade de acertar. E, como sabe, bem ou mal, tenho sempre que expressar a minha impressão acerca do que li. Não sei se isto é um defeito a emendar, se já não tenho emenda possível...:)
    Obrigada.

    Um abraço.

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    1. Correcta a interpretação da imagem. O seu comentário revela o conhecimento de perto de situações tristes para as quais não há solução, é o meu caso, o texto que publiquei é dedicado à minha última irmã que vive num mundo paralelo.
      Faça os seus comentários à vontade, o interesse, é a partir das publicações, haver quem analise de maneiras diferentes, tudo menos poeminhas cor-de-rosa.
      Obrigado. Um abraço.

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  4. Assim via eu, não há muito tempo. Refiro-me à imagem, claro.

    No poema, julgo encontrar a derradeira tentativa da construção de uma ponte entre a lucidez e a loucura.

    Abraço, L.

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    1. A loucura, certa loucura, pode ser positiva, a loucura negativa será insanidade. No primeiro caso as pontes são possíveis.

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  5. Para lo que para uno es una realidad, para otros es una realidad deformada, pero siempre hay que hacer un esfuerzo par entenderlo, para tratar lo de entender.

    Besos

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    1. Totalmente de acuerdo, ante la locura ofrece tranquilidad y comprensión. Un abrazo.

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  6. Aquilo porque todos nós podemos vir a viver, e a esperança de que isso nunca nos aconteça. Ver, muitas vezes, aquele/aquela que nos acompanhou nas coisas boas e más, começar a extinguir-se e a definhar ou a perder as suas faculdades, torna-se assustador e doloroso!

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    1. Essa é uma realidade que tocará à maioria de nós, companheiros, pais, irmãos, até ao dia em que poderemos ser nós.

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  7. Poema poderoso e precioso.
    Tocou forte cá dentro.
    Desta vez, em vez de um deixo dois beijos.

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  8. As coisas são realmente outras coisas... Vivi isso com o meu Pai, o meu Príncipe Esfarrapado que até o meu nome esqueceu...
    Muito obrigada por este belo poema e por o ter partilhado no meu blog.
    Beijos e abraços
    Marta

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