Um encontro inusitado
Dois homens conversam abrigados da chuva. O primeiro acaba de chegar e fala para o outro que tem um capuz, o outro responde.
-Boa noite, tem horas?
-Tenho muitas, sim.
-Pode dizer-me quantas são?
-Não, hoje não tenho horas suficientes, fique com as que tem.
-Apenas preciso de saber quantas são, não quero as suas horas.
-Quanto mais horas tiver com menos ficará, lamento.
-Preciso de saber com as que ainda conto.
A chuva aumenta de intensidade e há relâmpagos.
-O tempo é um cavalo pintado da nossa cor preferida, veloz a fugir e não volta.
-Mas, pode dizer-me as que tem agora? Tenho de decidir onde ir.
-Que quer decidir? Não tem onde ir, somos apenas os nossos passos, somos esta chuva, é do teu barro que vem a minha inspiração.
O homem do capuz acaba a frase e sai para o espaço exterior. Logo um raio o fulmina, o homem cai. O primeiro homem baixa-se sobre o corpo fumegante e levanta o capuz para ver a cara do homem deitado. Na cabeça queimada despontam dois pequenos cornos ainda incandescentes. Um raio fulmina também o outro homem.
Eugène Ionesco saúda o autor desta pequena peça de teatro ou simplesmente diálogo.
ResponderEliminarOriginal na sua absurdidade.
A aguarela desta noite é linda de morrer.
O absurdo sempre me interessou, até na vida, o que, inevitavelmente, cria situações complicadas. Aceito as saudações de Ionesco embora esmagado pela dimensão desse autor. A imagem foi fotografada com um raio de sol a incidir sobre ela, achei apropriada por isso.
EliminarEu é que fiquei esmagada com a originalidade da publicação desta noite.
EliminarDiversidade que muitíssimo me encantou.
O raio de sol que incide sobre a aguarela sintoniza com os corpos incandescentes.
Até os pequenos cornos mefistofélicos antevisto.
Registo com agrado a sua classificação da publicação de hoje.
EliminarO surreal encontra a realidade
ResponderEliminarEncontros a evitar.
EliminarBom dia!
ResponderEliminarNa minha habitual forma de comentar, seguindo somente a minha intuição e o meu sentir, naturalmente 'primitivos', sem o limar de arestas que a erudição confere, só me ocorre dizer que como acompanhamento a este curioso e surreal texto/dialogativo(?), deveria a imagem não ser tão explícita. A faixa de luz branca e oblíqua, simulando o raio a atingir a casa, enquadra-se nas palavras, sim, mas nada tem de surreal nem absurdo. Acontece!
Saliento, caro Luís, que isto não é de modo nenhum uma crítiva negativa e muito menos destrutiva, nem eu tenho 'estaleca' para tal, é, tão somente, a expressão sincera daquilo que me veio à ideia após aturada observação ao desenho e a releitura das palavras.
Contudo, sendo este espaço reservado à livre expansão da criatividade do seu Autor...porque não?
Pelo menos o diabo foi fulminado por um raio...e o outro? Morreu de susto? :-)
Obrigada.
(pela sua paciência)
Um abraço.
Bom dia
EliminarA imagem foi apenas uma curiosidade que achei adaptada ao texto, foi casual, um raio de sol sobre a imagem e... eu fotografei. Saiba que estimo os seus comentários, apesar da Janita não os classificar como eruditos, por vezes fazem com que eu olhe a publicação de um modo em que não tinha pensado.
O segundo personagem foi também fulminado por um raio, está no final do texto.
A minha paciência é longa, mas agora não foi preciso.
Muito Obrigado.
Um abraço.
Como sempre, gostei da aguarela oportunamente visitada por um raio de sol.
ResponderEliminarLi e reli o intrigante texto, mas continuo sem palavras para o comentar. Vou ficar a pensar nele.
Forte abraço!
Para mim é suficiente que fique a pensar nele, já é uma atenção que me dedica.
EliminarObrigado, um abraço.
Venham mais encontros inusitados. Tenho horas suficientes para tentar decifrar a mensagem do poeta-pintor.
ResponderEliminarLinda a aguarela fotografada com o «curioso» raio de sol. Diferente. Interessante.
Beijo Luis.
Mas este encontro relatado foi... fulminante.
EliminarUm abraço.