Companheiros da minha terra
Dos velhos da minha terra
conheço todos os vícios
das dores
das contestações dos ossos
das pomadas
dos comprimidos
do mau humor
da falta de cabelo
das unhas grandes e duras
da lamúria
pela falta de visitas
da soneira a toda a hora
do esquecimento
e do silêncio.
Os velhos da minha terra
viciam-se nos olhares descaídos
e lentos de pouco alcance
aceitam habitar o vazio
por entre o cheiro
a sopa e a urina
com revolta e angústia
caladas na boca dura.
Falta-lhes o crepitar
de uma lareira familiar com vozes
que eles escutam
embora ausentes
ficam leves, todos voando
nas suas pantufas eternas
enquanto estão vivos.
Fotos do autor do texto
Os velhos são o depósito das maldades e benesses do passar do tempo
ResponderEliminarOs velhos são a sabedoria e a anunciação da nossa própria velhice.
Eliminar„Envelhecer não é para cobardes“
ResponderEliminarSaudações da ilha antes do regresso a casa.
Envelhecer é bater o pé à vida.
EliminarJean Harlow que morreu tão cedo é que pronunciou esta sentença pela primeira vez:
Eliminar“Envelhecer não é para covardes”
Boa noite, Luís, desta vez da minha casa casa em Düsseldorf.
Que magnífico poema, L. !
ResponderEliminarE que bem ilustrado, embora tão dolorosamente ilustrado!
Eu também tenho uma cadeira-de-balanço herdada da minha mãe que a herdou do sogro, o meu avô poeta...
Forte abraço!
Sou dos que acredita que a poesia também deve ser dolorosa.
EliminarAgradeço a classificação que deu à publicação de hoje.
Saúde, um abraço.
Bom dia, Luís!
ResponderEliminarPelo que nos diz no texto acerca do conhecimento dos velhos da sua terra, creio que lhe advém das suas visitas ao Lar de Idosos da terra onde vive. Ou, então, fala em sentido figurado, ja que não é difícil adivinhar os sintomas e sentires da velhice.
Bem, pela parte que me toca, faço por aceitar o envelhecimento - o contrário não será de fortes, mas de alienados - mas espero nunca me render à velhice. Assim, a Mãe Natureza me ajude. Entretanto, deixemos que ela venha devagarinho.
Como dizia Gabriel Garcia Marquéz: " O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão." Saibamos, pois, num dia que ainda há-de vir mas não está muito distante, honrar o pacto que assinarmos com a solidão. Já que ela sempre vem associada à velhice.
Um abraço
Bom dia Janita
EliminarO seu comentário de hoje contém elementos e palavras esperançosas na forma como será possível encarar a velhice, estou de acordo, no entanto a realidade, na maioria dos casos, é aquela que verso no texto. O pacto com a solidão é uma abstracção que parte do nosso convencimento, é o nosso "bater de pé" à vida. Gosto da troca de opiniões, faz parte do pacto com a solidão.
Um abraço também.
Muito obrigado, é um gosto ter a sua visita.
ResponderEliminarBoa tarde Luís. Obrigado pelo texto que nos traz reflexão. Acho que a calvície e insônia tem sido os meus maiores companheiros. Mais sei que os comprimidosserão meu próximos amigos e companheiros.
ResponderEliminarOlá Luiz
EliminarEstamos todos na mesma onda, é preciso manter o ânimo, a calvície é sintoma de elevada testosterona e para adormecer basta ver televisão na cama.
Um abraço
Na tua terra os velhos envelheceram muito,
ResponderEliminardiria que estão mesmo uns trapos
que tal associarem-se à "minha" Associação
de "desenhadores de sonhos?"
Podemos criar aí uma delegação?
Talvez possam criar aqui uma delegação, não tenho conhecimento de como seria aqui a receptividade.
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