Cresci com muitas dúvidas 


Era pequena a nossa casa

cada divisão um país cercado

que limitava o meu desejo

de crescer e a cor

sem movimento no meu dia-a-dia. 

Até gostar das cidades

à noite, muito à noite ___

________________________

___ imagino o que elas não são

e não retorno àquele cubo absoluto. 

Conservo tudo o que me ofereceram

quatro garrafas raras de cerveja

várias canetas e postais

gravuras de paisagens estrangeiras

frascos de perfume já vazios

beijos de chegada e de partida. 


Esta é a minha vida elementar

pouco de tudo o que é palpável 

e muitas dúvidas ___ sem resposta.



 

14 comentários:

  1. Ainda bem
    As dúvidas são a mãe do conforto e quiçá da felicidade

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  2. Agora compreendo a minha falta de curiosidade — não alimento dúvidas nem certezas.
    O meu desejo desde criança era conhecer o mundo 🌎 e ficar para sempre na terra dos poetas e filósofos.
    Não vou mastigar mais os meus sentimentos e digo simplesmente que quase me identifiquei com o poema desta noite.
    Continuo a amar cidades grandes, muito grandes, de dia e de noite.
    A aguarela é negra e triste como a manhã de hoje aqui.
    Saudações do Mar Báltico 🌊

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    1. A curiosidade é essencial para a criatividade, deve ser estimulada e seguir de descoberta em descoberta.
      O sol faz falta.

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  3. Um poema um pouco triste, e uma aguarela condizente com o poema.
    O casarão onde cresci era enorme. Tão grande que era difícil encontrar o que havia, além da fome e do frio. Estava praticamente cheio do que faltava.
    Dúvidas muitas. E sonhos. Tantos! Alguns, poucos, realizaram-se. A maioria perderam-se com o passar dos anos.
    abraço, saúde e bom fim de semana

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    1. Todos temos memória da casa onde nascemos, eu seria capaz de fazer a planta certinha de toda a casa. Depois, vieram outras casas, outros lugares, outras realidades e ___ muitas dúvidas.
      Saúde, um abraço.

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  4. Na multifacetada personalidade do Autor deste espaço, uma faceta que (entre outras) lhe admiro é a sua capacidade de síntese.
    Neste texto, dividido em três partes, está o resumo da sua vida, dos seus anseios e daquilo que lhe restou: As dúvidas, sem resposta.
    Nesta parte identifico-me com o autor, no resto, não.

    A minha casa - a casa da minha infância, onde fui feliz - era grande.
    Tinha entrada pela "Rua", empedrada, e, atravessando toda a casa e o quintal, um misto de pomar, horta e jardim, tinha a saída para a "estrada", alcatroada.
    No entando, não era isso que me dava a sensação de felicidade, nem sequer a abundância de tudo, que não havia. Era o conforto de me sentir segura e amada.
    Sensação essa, que nunca mais voltei a sentir, quando aos doze anos de idade, abandonámos a casa grande na terra pequena, rumo à casa pequena na cidade grande.

    E dúvidas, muitas, muitas. Ainda que a consciência disso só me viesse mais tarde.
    Esse foi o espinho que só muito recentemente consegui arrancar. Não, por ter visto esclarecida a dúvida, a incerteza, simplesmente, deixou de me interessar.

    Peço desculpa por este despropósito. Por me ter desviado do essencial, que são as palavras do autor, mas, foram elas, que me transportaram no tempo e no espaço. :)
    Obrigada, um abraço.

    Ah, já me ia esquecendo da imagem. Vejo nela uma casa pequena, em traços negros, e, pendurado do lado de fora algo que poderá ser o mundo, igualmente negro, por ser desconhecido para o menino que sonhava altos voos noutros mundos, dos quais lhes desconhecia a cor...

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    1. Muito completo e inspirador este seu comentário. Avalio o impacto da mudança de uma casa com terra, neste caso um quintal, para um apartamento, também me aconteceu. Ficam recordações que, com a tecnologia de hoje, dá para ver as casas onde fomos crianças, já o fiz e até vi um rapazinho de boina castanha a correr no quintal.
      Nada é um despropósito nos comentários, essa é uma valia deste espaço, que me preenche e anima a continuar, agradeço reconhecido a todos os que falam comigo.
      Muito Obrigado, um abraço.

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  5. Dúvida, uma das nossas maiores riquezas!

    Da dúvida nos nasce a criação artística bem como, na maturidade, a certeza de que algumas das nossas dúvidas não terão resposta em tempo útil...

    Gosto muito da aguarela minimalista a preto sobre branco, L.

    Forte abraço!

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    1. Certo. As dúvidas são um campo de pesquisa e motivo para a nossa curiosidade que está na raiz da criatividade.
      Saúde, um abraço.

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  6. As casas podem nos deixar boas ou más lembranças.
    achei a aguarela muito bem combinada para o teor do poema.
    Bom fim de semana.
    :)

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    1. As casas ficam na nossa memória e se as abandonarmos também morrem.
      Obrigado, um abraço.

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  7. Esa casa en que has vivido, puede evocar recuerdos de la niñez.

    Besos

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    1. Los hogares de la infancia permanecen en nuestra memoria. Un abrazo.

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