O artista, uma aproximação à sua definição 

 

O artista é um ser insubmisso, um agitador

alguém que escandaliza as consciências 

com o seu próprio escândalo,  

que fere com as palavras, 

que desarruma a ordem das certezas, 

dos sentimentos dos outros, 

que fala de coisas comuns que incomodam 

e questionam ___ e questionam 

nem que para isso se exponha e se suicide, 

o artista deve sofrer com o seu acto criativo, 

deve ser feliz na dor absurda da imaginação 

e não ambicionar a riqueza ou o aplauso. 


O artista tem uma criatividade tão forte

como o apelo do corpo a arder e

nisso é um sem vergonha. 

O artista é um criador solitário 

e não um empresário com uma fábrica de arte, 

o artista tem dificuldades e limitações 

e uma ridícula conta bancária, 

o artista é um insurgente 

ainda que isso custe caro mas 

mais caro seria a sua consciência estrangulada. 

O artista recolhe-se na natureza 

seja lá o que isso for de tão vasto o seu significado, 

recolhe-se no silêncio crepuscular, 

incorpora-se na madrugada

não sabendo ao certo contar o tempo. 


O artista tantas vezes rejeitado, criticado, ignorado 

será talvez um dia o orgulho dos seus filhos.



 

26 comentários:

  1. A paleta de cores perpétuas que tanto me encantou, não ofuscou a definição precisa do artista.
    O que me surpreendeu foi o final, porque imediatamente me lembrei dos artistas que não deixaram descendentes.


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    1. É apenas uma aproximação, uma tentativa de definição.

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    2. Ao ler esta tentativa de definição, pensei logo que era a descrição quase precisa de Martin Kippenberger — o artista e escultor alemão, que foi uma “persona” pública provocadora. O orgulho da sua filha única.

      A paleta de cores perpétuas é lindíssima.

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    3. Não conheço Martin Kippenberger, vou pesquisar. A paleta do autor, de cores perpétuas está à venda, só a paleta, as cores são de todos.

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  2. O artista ofende e elogia o mundo e simultaneo

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  3. O artista é uma espécie de Deus humano. E o mundo atual não gosta de deuses, a menos que eles tenham uma conta bancária muito, muito gorda.
    Gosto muito da paleta de cores perpétuas.
    Abraço e saúde

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    1. Sempre o poder do dinheiro, até nas artes descobriram o negócio, as Indústrias Criativas.
      Obrigado, saúde, um abraço.

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  4. Esta publicação, que vi e revi, li e reli, é de uma imensa qualidade estética, humana e narrativa, L. <3

    Forte abraço!

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    1. Este seu comentário é um impulso à actividade do autor.
      Muito Obrigado, um abraço.

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  5. E quem é esse artista
    agitador, insubmisso,
    sem vergonha,
    solitário,
    que nega ser empresário?

    Pierre Alechinsky?
    Luís Rodrigues?

    Este último
    Oferecendo o seu trabalho
    não vivendo de ar e vento
    dilui-se na madrugada
    deixando escapar o tempo...
    ... tempo, como todos sabemos, é aquele vil metal.
    Coisa que o artista desdenha mas, sem o qual, não obtém as aguarelas, para nos oferecer as suas pinturas tão belas...

    Um abraço.

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    1. O artista, autor da imagem e do texto não tem desdém pelo dinheiro, mas pelo objectivo que muitos perseguem "a riqueza" e esse objectivo tudo condiciona e torna vis os perseguidores. No entanto, o autor tem um compromisso com ele próprio estabelecido na juventude, que é o seguinte, os apreciadores sinceros do meu trabalho, que não tenham meios para os adquirir, a esses, sempre terei algo para lhes oferecer.
      Os seus comentários são muito úteis porque me permitem dialogar.
      Um abraço também.

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    2. Eu sei! Sei que o Artista deste espaço valoriza o que é necessário, não pretende é ver a sua Arte ser objecto de enriquecimento fácil e, sobretudo, viver condicionado a ditames comerciais que violetem a sua maneira de ser e pensar.
      Mas, sabe? Ao comentar, aqui, também gosto de (tentar) ser criativa. Isso do "gostei", fica muito aquém daquilo que este Artista merece.
      Nunca leve a mal nada do que eu disser. Não tenho - nem nunca tive - a mínima intenção de o magoar ou ofender.
      Obrigada.

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    3. Valorizo os seus comentários, valorizo a sua sinceridade e aprecio esta sua faceta mais afável que se traduz em comentários por vezes até poéticos. Não levo a mal, como tem visto sou paciente e tento ser compreensívo e isso dá frutos saudáveis.
      Sou todo ouvidos e envio-lhe um abraço.

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  6. "o artista deve sofrer com o seu acto criativo,
    deve ser feliz na dor absurda da imaginação
    e não ambicionar a riqueza ou o aplauso."

    ... Mas não há maior gratificação
    do que merecer o orgulho dos seus filhos
    e já agora
    entenda meus comentários como manifestação de elogio
    (valem o que valem, mas são sinceros)

    Deixo-lhe apenas um senão
    É linda a arte de um colectivo
    e mexe muito comigo

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    1. Concordo com o colectivo, mas este é formado pelos lampejos por vezes geniais de alguns indivíduos. O que aprendemos na "nossa escola política" não é um dogma mas um guia para a acção. Tristes foram os resultados quando quiseram impor esses dogmas aos artistas, mais tarde isso foi compreendido... felizmente e para riqueza do labor artístico.

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    2. Numa orquestra, cada lampejo desafina
      Numa cena, cada lampejo escapa ao texto
      Numa dança, cada lampejo dá mau jeito
      Num coral, soa mal
      (estendeste o entendimento em sentido, que faz sentido...)

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    3. Os lampejos a que te referes e que dão mau resultado, são em situações em que tudo está previsto e combinado desde o início e não em colectivos criativos como a actividade que ambos conhecemos e, em outro exemplo, em trabalhos colectivos dos criativos de publicidade.

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  7. O artista, no fundo ajuda a expandir o universo.

    Abraço

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    1. Concordo e agradeço a sua vinda e o seu comentário que adicionou algo à publicação de hoje.
      Obrigado. Um abraço.

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  8. Poema poderoso, retrato do «verdadeiro» artista-poeta.
    Luis, hoje conheci mais sobre si e sobre a sua paleta colorida. E gostei!
    Já agora, o tempo não se conta, vive-se!
    Beijo, boa noite.

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    1. O tempo vive-se, é verdade, mas também se conta, agora, dantes não.
      Obrigado pelo que disse.
      Boa Noite, um abraço.

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  9. En la mayoría de las ocasiones son incomprendidos y algunos alcanzan la fama, después de haber fallecido.

    Besos

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    1. Algunos, sí, permanecerán ignorados, pero hay muchos que persiguen la fama y la riqueza. Un abrazo.

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  10. Amo os artistas de modo geral, seja em qualquer Arte.
    Lindo seu poema a a tela maravilhosa!
    Gosto de vir ver voce .Parabéns, sempre criativo e original Luis
    meu abraço

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    1. É sempre um prazer ter a sua visita, agradeço o seu carinhoso comentário.
      Um abraço também para si.

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