Foto do autor do texto 



 
 
Sem descendentes

Pelos mortos sem descendentes
faço um dia de luto
     vestir-me-ei de preto luminoso
     e passearei pelas ruas da minha aldeia
faço um dia de jejum
     a boca e a minha língua serão purificadas
     pela água em goles de hora a hora
faço um dia de silêncio 
     nem música nem palavras
     sons ___ apenas os do meu corpo
faço um dia de abstinência 
     contemplo uns seios próximos
     mas mantenho
     o luto
     o jejum 
     o silêncio 
     a abstinência 

Pelos mortos sem descendentes 
o céu continua vazio ___ injustamente 
ninguém os santificou. 


 

17 comentários:

  1. Os mortos sem descendentes são os que optaram por fugir à regra humana

    ResponderEliminar
  2. Infelizmente há tantos mortos sem descendentes e só te digo que muitos antes de partirem talvez tivessem tido na vida apenas o quente da minha mão e de outros que faziam o que eu fiz tantas vezes.
    Fizeste dois poemas bem fortes mas cheiinhos de uma razão notável e meritória.
    Abraços sinceros e respeitadores

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigado pelo apoio às minhas publicações, é compensador que a sensibilidade de alguns leitores seja tocada.
      Um abraço.

      Eliminar
  3. A beleza do texto poético e da imagem cativaram-me de imediato, mas ocorreu-me que houve e haverá mortos cujos descendentes nem mesmo os puderam entender, quanto mais dignificar...

    Forte abraço, L.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É verdade, acho mesmo que, em vez de santificados, serão esquecidos para sempre.
      Obrigado.
      Um abraço.

      Eliminar
  4. Intenso e profundo.
    Fico em oração.
    Boa semana com saúde.

    :)

    ResponderEliminar
  5. Dando continuidade ao seu devaneio poético, Luís, eu diria que enquanto os idealistas fazem luto,
    jejuam, silenciam a revolta, humedecendo a própria língua em água-benta, numa tentativa de homenagear
    os mancebos que caem por uma causa na qual nem sequer acreditam, os crápulas sem alma se regozijam em bacanais nojentos.
    Não contemplam os seios que lhe estão próximos - que sabem eles de contemplação?
    Matam, transformando em pó, seios inchados de leite materno, que não alimentará nenhum descendente...

    Um grande abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O seu comentário é um bom texto com algo de poético e de trágico com o qual estou de acordo sobretudo no ponto que foca o escândalo "os crápulas sem alma que se regozijam em bacanais nojentos". Esta é uma frase de largo espectro que atinge todos os crápulas, os que matam para defesa dos seus interesses e negócios, os que violam e traficam pessoas para fornecer transporte às pessoas em fuga e os que estão a fazer fortuna à custa das crises, e destes também temos no nosso país.
      Um abraço.

      Eliminar
    2. É o capitalismo, Luís, e as mãos cheias de sangue 🩸

      Eliminar
  6. O poema é uma prece contra o conflito actual, sem tomar partido, como manda a POESIA verdadeira.
    A imagem completa a mensagem pacifista 🕊

    Eu temo pelos meus DESCENDENTES caso a NATO meta o bedelho 💀

    ResponderEliminar
  7. Poema lindíssimo de ler!
    Adorei.

    Beijinhos e um excelente dia

    ResponderEliminar
  8. O mundo está cheio de mortos sem descendência. Uns morrem na guerra, outros de fome, consequências da guerra ou dos problemas climáticos. Cada jovem que morre é um esperança de um mundo diferente que se esvai.
    Gostei do poema
    Abraço e saúde

    ResponderEliminar