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Uma carta da guerra
Vai a morada completa na minha carta
no interior encontrarás
um pouco do ar que aqui respiro
e se ficares em silêncio
ouvirás os rebentamentos
cada vez mais perto ___
encosta as minhas palavras à tua face
e ouvirás os meus soluços
e sentirás a minha sede ___
procura no envelope
três sementes esperançosas
vão renascer aí
rega-as com as tuas lágrimas
de modo a que no meu regresso
sejam flores de boas vindas
qualquer que seja a minha chegada.
Comovente carta de guerra a contrastar com a luminosidade e beleza da fotografia.
ResponderEliminarNem sei se os combatentes terão tempo para escrever cartas.
EliminarEntão, nunca leu Cartas da Guerra de António Lobo Antunes?!
EliminarNão li, mas sei do que se trata.
EliminarFlores de boas vindas faz imaginar uma recepção em pyongyang
ResponderEliminarIsso foi no século passado, temos tragédias mais recentes.
EliminarUiiiiiii...digo que recebi a carta e "encostei-a à minha face" e ainda rego com lágrimas verdadeiras e incontroláveis mantendo a esperança num bom regresso.
ResponderEliminarTiro-te o meu chapéu por tão belas palavras poéticas.
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Desculpa o abuso mas conto-te um pequeno episódio que nunca mais esqueço enquanto ser vivo: Eu e o meu grupo fazíamos voluntariado no Hospital Militar de Luanda bem perto da casa dos meus pais. Era um vai-vem de helicópteros com feridos de guerra. Eramos divididos por 4 grupos conforme a sensibilidade e o meu era o mais pequeno que visitava a ala dos que não escapariam. Numa vez eu ia com o enfermeiro chefe e ainda antes de entrar ouvia um jovem a gritar " Célia, Célia" e questionei ao que respondeu: chegou anteontem e só grita por "Célia" e não há nada que o acalme. Abeirei-me e só via ligaduras. Tão jovem como eu 20/21 anos. Sentei-me a seu lado sobre a mira do enfermeiro: agarrei-lhe na mão e disse apenas isto: sossega já estou aqui a teu lado e apertou imenso a minha mão e eu pus a outra por cima da dele. Foi sossegando e adormeceu. Lentamente retirei-as e o enfermeiro ligou-me a mão porque fiquei com nódoas negras. Fez-se um silêncio naquela enfermaria e pedi-lhe para me dar notícias. Não sabíamos os nomes porque todos tinham apenas e tão só um número. Dois dias depois telefonou-me a dizer: Fatyly não gritou mais e morreu num sossego e em paz.
Gestos que para muitos não dizem nada mas nunca esqueci aquele momento e por vezes ainda sinto o calor e apertão da mão daquele jovem."
Beijocas e um bom dia
Também me sensibilizou o episódio real da sua vida e que, de facto, será inesquecivel para si. Vivi a vida militar nesse período, consigo recordar o clima de guerra e o terror em que se vivia por estarmos a ser treinados para a morte, todos os dias presenciava, Estrada de Benfica acima, os carros militares em funeral com as urnas cobertas com a bandeira nacional. O que parece quase impossível é o homem manter-se ainda hoje num tal estado de atrazo que constrói máquinas para matar o seu semelhante e máquinas que matem cada vez mais e em maior quantidade.
EliminarQuem sobreviverá?
Obrigado, um abraço.
Magníficos, os seus ciclames.
ResponderEliminarGostei muito. Já os tive também, mas agora já tenho pouquíssimas plantas de interior.
Quanto à sua carta enviada de uma guerra imaginária, nada se me oferece dizer pois não a compreendi.
Um abraço.
Também gosto destas flores, estão agora muito vibrantes.
EliminarPensei que o texto fosse concreto, lamento.
Um abraço.
Forte, sentido e comovente.
ResponderEliminarA foto traz esperança.
Boa semana.
:)
Muito obrigado.
EliminarUm abraço.
Que dizer, L.?
ResponderEliminarTocou-me profundamente, este seu poema. Sobretudo o final.
Forte abraço!
Uma realidade do presente.
EliminarObrigado.
Um abraço.
Thanks
ResponderEliminarOk
ResponderEliminarTristemente Bonito!
ResponderEliminarMuito obrigado.
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