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Uma carta da guerra

Vai a morada completa na minha carta
no interior encontrarás 
um pouco do ar que aqui respiro
e se ficares em silêncio 
ouvirás os rebentamentos
cada vez mais perto ___
encosta as minhas palavras à tua face
e ouvirás os meus soluços 
e sentirás a minha sede ___
procura no envelope
três sementes esperançosas
vão renascer aí 
rega-as com as tuas lágrimas 
de modo a que no meu regresso
sejam flores de boas vindas
qualquer que seja a minha chegada.




 

18 comentários:

  1. Comovente carta de guerra a contrastar com a luminosidade e beleza da fotografia.

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  2. Flores de boas vindas faz imaginar uma recepção em pyongyang

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  3. Uiiiiiii...digo que recebi a carta e "encostei-a à minha face" e ainda rego com lágrimas verdadeiras e incontroláveis mantendo a esperança num bom regresso.
    Tiro-te o meu chapéu por tão belas palavras poéticas.
    ...............................
    Desculpa o abuso mas conto-te um pequeno episódio que nunca mais esqueço enquanto ser vivo: Eu e o meu grupo fazíamos voluntariado no Hospital Militar de Luanda bem perto da casa dos meus pais. Era um vai-vem de helicópteros com feridos de guerra. Eramos divididos por 4 grupos conforme a sensibilidade e o meu era o mais pequeno que visitava a ala dos que não escapariam. Numa vez eu ia com o enfermeiro chefe e ainda antes de entrar ouvia um jovem a gritar " Célia, Célia" e questionei ao que respondeu: chegou anteontem e só grita por "Célia" e não há nada que o acalme. Abeirei-me e só via ligaduras. Tão jovem como eu 20/21 anos. Sentei-me a seu lado sobre a mira do enfermeiro: agarrei-lhe na mão e disse apenas isto: sossega já estou aqui a teu lado e apertou imenso a minha mão e eu pus a outra por cima da dele. Foi sossegando e adormeceu. Lentamente retirei-as e o enfermeiro ligou-me a mão porque fiquei com nódoas negras. Fez-se um silêncio naquela enfermaria e pedi-lhe para me dar notícias. Não sabíamos os nomes porque todos tinham apenas e tão só um número. Dois dias depois telefonou-me a dizer: Fatyly não gritou mais e morreu num sossego e em paz.
    Gestos que para muitos não dizem nada mas nunca esqueci aquele momento e por vezes ainda sinto o calor e apertão da mão daquele jovem."

    Beijocas e um bom dia


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    1. Também me sensibilizou o episódio real da sua vida e que, de facto, será inesquecivel para si. Vivi a vida militar nesse período, consigo recordar o clima de guerra e o terror em que se vivia por estarmos a ser treinados para a morte, todos os dias presenciava, Estrada de Benfica acima, os carros militares em funeral com as urnas cobertas com a bandeira nacional. O que parece quase impossível é o homem manter-se ainda hoje num tal estado de atrazo que constrói máquinas para matar o seu semelhante e máquinas que matem cada vez mais e em maior quantidade.
      Quem sobreviverá?
      Obrigado, um abraço.

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  4. Magníficos, os seus ciclames.
    Gostei muito. Já os tive também, mas agora já tenho pouquíssimas plantas de interior.
    Quanto à sua carta enviada de uma guerra imaginária, nada se me oferece dizer pois não a compreendi.
    Um abraço.

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    1. Também gosto destas flores, estão agora muito vibrantes.
      Pensei que o texto fosse concreto, lamento.
      Um abraço.

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  5. Forte, sentido e comovente.
    A foto traz esperança.
    Boa semana.
    :)

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  6. Que dizer, L.?

    Tocou-me profundamente, este seu poema. Sobretudo o final.


    Forte abraço!

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