Foto de Augusto Rodrigues





O regresso do trabalho

Passeiam o sono nas encostas 
de um banco de jardim com persistência 
há um sonho sob as suas boinas 
um sonho que envelheceu 
nas suas mãos forradas dos calos do trabalho 


um dia deram conta de que ainda 
eram meninos com afã de homens 
que a vida não parava para reinação de criança 
ainda guardam os anos perdidos 
dentro da velha marmita de todos os dias 


há uma noite  densa em cada sono fora do lugar 
de preferência ao sol para recordar 
o que é o corpo suado do trabalho 
e despertar é como afirmar em público que a hora 
de dormir para sempre ainda não chegou 


no regresso a casa hoje é dia 
de iluminar os olhos com a luz 
guardada na caixa das velhas fotografias da vida 
com a cara encostada à saudade que com ele respira.


 

9 comentários:

  1. A fotografia lembra o neo realismo italiano.
    O poema descreve convincentemente essa época.

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  2. Uma época nada longínqua em que a idade pouco importava e tinha de trabalhar para ajudar na precariedade da família, muitas vezes sem qualquer regalias e ou condições e rapidamente tinham que se tornarem adultos à força.
    Mudam os tempos, mudam-se as vontades e hoje queixam-se por tudo e por nada porque trabalhar faz calos, já para não falar do lado negro da exploração dos que procuram refugio em Portugal. Estes sim têm motivos para se queixarem, mas não se queixam.. Gostei da foto!
    Beijos e um bom dia

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    1. A exploração continua a existir enquanto houver homens que vivem na opulência e amealham fortunas à custa do trabalho de outros homens. O protesto de quem trabalha é justo e tem a mesma génese dos que procuram refúgio em Portugal.
      Bom Dia, um abraço.

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  3. Deixei um comentário que desapareceu.
    Vamos ver se consigo paciência para o reescrever.
    Dizia eu que o poema casa bem com a foto de um tempo distante e que actualmente a hora de dormir para sempre não tem a brevidade do tempo de então. E dizia mais, muito mais, mas uma gralha e a tentativa de a corrigir levou-me tudo.
    Tenho pena, mas o encanto com que comecei a escrever e a dissertar sobre o tema referente à vida dos trabalhores de hoje e dos do tempo que a foto ilustra, é muito grande. E ainda bem!
    A diferença é que o incitamento dos sindicatos a consecutivas reivindicações está a matar as micro e pequenas empresas...
    Só quem viveu e sentiu na pele as agruras dos tempos duros da injustiça laboral e dos saláruios miseráveis, sabe quãos diferentes são os dias actuais.
    Um abraço


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    1. Céus!!!! Corrijo. salários e quão...Hoje, estou em dia não...
      Janita

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    2. O seu comentário aflora uma questão de carácter político que requer um longo debate e que neste espaço não há condições para o fazer. No entanto ainda lhe posso dizer que nunca tomarei uma posição contra os sindicatos pois são as organizações que os trabalhadores têm para lutarem contra a exploração de que são vítimas e que cada vez tem aspectos mais sofisticados.
      Agradeço a sinceridade.
      Um abraço.

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